* Mikio Kawai Jr.

Mesmo em época de grande avanço tecnológico, ainda vivemos a preocupação com o racionamento de energia e, o pior, com grandes apagões, como o que atingiu boa parte da região Nordeste no último mês de agosto. A questão é que um país como o Brasil precisa tanto de fontes previsíveis de energia, como carvão e gás, quanto de fontes sustentáveis, como vento, luz solar e etanol. E isso, obviamente, ainda não ocorre da maneira correta.

 

Embora muito abundantes nas regiões Centro-Oeste e Norte e no interior de São Paulo, insumos como etanol e bioenergia elétrica são ainda duas das opções menos defendidas por especialistas, enquanto é muito comum ouvirmos sobre as energias eólica e solar. De alguns anos para cá, no entanto, o setor sucroalcooleiro tem se tornado uma excelente alternativa aos problemas em nosso sistema energético.

 

Desde o início da década, o bagaço da cana de açúcar tem sido utilizado como fonte para a produção de energia, tanto térmica quanto elétrica, e impulsionado a economia dos estados em que marca maior presença. Ao produzirem energia elétrica como subproduto, as usinas de açúcar e álcool se tornam autossuficientes e ainda conseguem fornecer parte da eletricidade que gera para comercialização no mercado livre com outros geradores ou comercializadoras. Ou seja, elas não só deixam de gastar com conta de luz, como conseguem lucrar com a venda do insumo.

 

A maior vantagem da utilização das usinas sucroalcooleiras para a geração de energia é que elas complementam perfeitamente o sistema hidrelétrico nacional. Coincidência ou não, o período mais forte da safra de cana de açúcar é entre abril e novembro, justamente a época mais seca na região Sudeste, onde está localizada a maior parte de nossos reservatórios de água.

 

Além de ser uma opção nos períodos de menor nível de água nas hidrelétricas, as usinas sucroalcooleiras atendem perfeitamente às preocupações com a natureza, pois produzem energia a partir de fontes renováveis que praticamente não oferecem danos ao meio ambiente. É fundamental que as precauções ambientais existam, porém a falta de energia em nossos lares e indústrias também é uma questão importantíssima. Por conta disso, é necessário voltarmos as atenções às mais diversas fontes disponíveis em nosso sistema energético.

 

Mikio Kawai Jr. é economista pela FEA-USP (1995), mestre em economia pela Unicamp (1999 – dissertação sobre gestão de riscos) e Advanced Executive Management pela IESE Business School (Espanha 2011). Iniciou a carreira no mercado financeiro em bancos de investimentos, tanto nacional como estrangeiro, migrou para o mercado de energia na sua genese, em 1998, tendo trabalhado na CPFL Energia ate 2004, atuou como gerente de suprimento de energia na AES Brasil, gerente de operações na Openlink (Nova York e SP). Desde 2008 ocupa o cargo de diretor executivo do Grupo Safira, companhia que atua na comercialização de energia, além de consultoria e prestação de serviços em representação de entidades no âmbito da CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).