Um pequeno grupo de ativistas acossava os negociadores que chegavam ontem a uma das últimas sessões preparatórias para a conferência do clima de Copenhague, em dezembro. Vestidos como extraterrestres, clamavam: “Precisamos de líderes. Você é um líder do clima? Leve-nos ao seu líder”.

E, caso raro, os alvos do protesto não se cansaram de concordar com quem reclamava. Cinco dias de conversas que reuniram 4.000 pessoas em Barcelona resultaram em pequenos festejos a cada colchete alterado no texto e uma conclusão: só os líderes políticos poderão conseguir agora o que os diplomatas não alcançaram, um novo acordo climático.

“Falta vontade política”, disse o sul-africano Alf Wills, um dos porta-vozes dos países em desenvolvimento. Ou, na formulação mais esperançosa elaborada pela turma que não se senta à mesa de negociação, há um tabuleiro armado para os políticos brilharem como salvadores do planeta. “Faz parte do jogo”, disse a dinamarquesa Tove Ryding, do Greenpeace.

O principal funcionário das Nações Unidas para o clima formulou suas conclusões de maneira não muito diferente: “Barcelona expôs de maneira clara que um compromisso político pode fazer de Copenhague o ponto da virada”, disse o holandês Yvo de Boer. “Os governos precisam ser claros. Os negociadores não podem fazer nada nesse meio tempo.”

“O próximo Bush”
De Boer disse que há uma estimativa de que 40 chefes de Estado iriam à convenção. Citou os nomes do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e do presidente francês, Nicolas Sarkozy.
Mas é, óbvio, em torno de outro nome, o do americano Barack Obama, que gira boa parte da expectativa sobre o que poderá acontecer em Copenhague. A delegação americana disse que sua participação ainda não está decidida.

Obama foi alvo de críticas de ambientalistas ontem. Um deles foi expulso aos berros de uma das derradeiras sessões do encontro. Suas palavras: “Obama é o próximo Bush”. “As conversas em Barcelona claramente aconteceram sob a sombra da década perdida dos EUA”, afirmou Antonio Hill, da ONG Oxfam. “A liderança americana precisa ser recuperada rapidamente.”

O representante americano na convenção saiu em defesa de seu chefe. “O presidente não perdeu tempo no primeiro ano de sua administração”, disse Jonathan Pershing, citando ações de Washington no clima.
Em segundo lugar no alvo das reclamações pela paralisia das negociações, os europeus também se explicavam. “Vamos mudar os fundamentos da civilização industrial. É um processo complexo”, disse Anders Turesson, da Suécia, país que ocupa a presidência da UE. Não faltaram, nos dois últimos dias de reunião em Barcelona, frases de lamento sobre os insucessos do sistema da diplomacia ambiental -que, à sua maneira, permitem lembrar os tropeços dos negociadores de comércio na Rodada Doha.

“É inaceitável, estamos nessa discussão há pelo menos três anos”, disse o representante do grupo conhecido como G77+China, dos países subdesenvolvidos, o sudanês Lumumba Di-Aping.
São dois os nós principais que o sistema diplomático não conseguiu desatar após os cinco dias de reuniões -quase todas fechadas ao público.

Um diz respeito ao corte que cada país vai efetuar na emissão de gases que provocam o efeito estufa. Outro toca no bolso dos países ricos: quanto eles vão destinar aos países pobres para projetos que os ajudem na área ambiental. Se os políticos não conseguirem desatá-los até o final da conferência em Copenhague, resta a chance de que façam algum tipo de “acordo político”, que tenha o efeito de sinalizar um desejo de compromisso e, na prática, estender as negociações para o ano que vem.

Folha de São Paulo