Esta semana, o empresário Ney Serra, Presidente da AEHTURB, enviou uma carta a todos os associados da entidade adotando um posicionamento crítico a atual administração.

Além de convocar os associados para uma reunião na próxima segunda (1), às 18hs, na sede da entidade, o comunicado atesta que esta última temporada de Verão foi a mais fraca dos últimos anos e que Bertioga tem um programa ineficiente de limpeza, urbanização, embelezamento e turismo.

A carta assinada pelo próprio presidente traz ainda um desagravo ao Prefeito que segundo a AEHTURB (Associação dos Empresários da Hotelaria, Gastronomia, Náutica, Agências de Turismo, Ecoturismo e Eventos de Bertioga) não realizou ou implantou nenhuma das propostas do seminário “Bertioga a Riviera Paulista” organizado pela entidade no início do ano passado.

Em entrevista ao JB, Ney Serra justifica o tom duro do comunicado da AEHTURB.

JB – Qual o motivo deste posicionamento adotado pela associação?

Nós achamos que Bertioga tem uma extraordinária potencialidade turística. Aqui, a potencialidade não é industrial nem de nenhuma outra atividade. O desenvolvimento do município tem que ser baseado no turismo. A cidade precisa ter uma melhoria urgente. Falta urbanização na cidade e depois de um ano da atual gestão nós entendemos que já deu tempo para montar um programa de calçamento e pavimentação de todas as ruas da cidade, não permitir os terrenos baldios abandonados. É um matagal tremendo… Jogam lixo… Pelo menos construir uma mureta… O povo não tem onde andar, anda no meio da rua. Isso daria emprego para uma porção de profissionais daqui e só depende de uma atitude de fiscalização da prefeitura.

Precisamos melhorar a limpeza da cidade. Continuam jogando lixo na rua, nos cantos. Esta havendo um desentrosamento entre o horário que o pessoal põe o lixo na rua e o horário que é recolhido. Então os cachorros espalham o lixo pela cidade inteira. Um aspecto totalmente negativo. As ruas todas cheias de areia… As praças e as áreas de uso comum todas cheias de mato, sujas. A poda das árvores… Você pega aqui atrás do SESC as árvores estão encobrindo a calçada. É preciso limpar as árvores por baixo para que fique uma cidade mais bonita de melhor aspecto.

A cidade está totalmente esburacada. Precisa ter uma operação tapa-buraco permanente e eficiente. Não permitir nenhum buraco na cidade. E tapar com técnica colocando um primer, colocar o asfalto e passar um cilindro pra nivelar e fixar. Pra que não seja um asfalto que uma semana depois já se soltou.

Nós achamos que a atual administração deveria tomar duas medidas de grande impacto: reurbanização e repavimentação completa da Av. 19 de Maio inclusive acabando com aquele pedaço entre o Krill (supermercado) e a praia, que é uma vergonha. Está há dois ou três anos interrompida. Tem que encontrar uma solução para o problema judicial. Não é impossível negociar e buscar uma solução.

Outra medida é duplicar a Avenida Anchieta, da balsa até o final no Indaiá e transformar em uma avenida no padrão das avenidas que tem dentro da Riviera, cheia de coqueiros, uma coisa bonita. Tem um lugar na cidade que é exemplo de urbanização que ganhou vários prêmios no mundo que é a Riviera. Por que não copiar o que foi feito lá? Se uma empresa privada conseguiu fazer uma urbanização como a que está lá por que o poder público com muito mais dinheiro, tendo inclusive a possibilidade de cobrar impostos, não consegue e não tem a eficiência para fazer uma urbanização semelhante a que foi feita lá na Riviera? Então nós queremos que a Riviera não seja apenas um bairro dentro de Bertioga. Nós queremos que Bertioga inteira seja a Riviera Paulista. Que toda a urbanização do município de Bertioga se espelhe no modelo e no padrão da Riviera.

Então se a gente fizer isso e tem que ser imediato já vai dar um levantamento da apreciação da cidade pelos próprios moradores. Os investidores vão ver resultados concretos de que a cidade está progredindo.

É isso que nós defendemos. Não é nada difícil. Agora, nós achamos que o prefeito é bem intencionado, é um arquiteto, é um sonhador, uma pessoa que deseja uma cidade bonita mas ele não está conseguindo fazer. Por diversos motivos e problemas internos que ele tem lá não está conseguindo fazer. Nós queremos ajuda-lo. Amigos não são aqueles que aplaudem e bajulam. Amigos são aqueles que tem a coragem de dizer a verdade. Então nós estamos tendo a coragem de tornar público o nosso posicionamento.

Gostamos do Orlandini, mas, achamos que ele tem que tomar uma ação imediata. Está começando a se criar na cidade movimentos de oposição, nós até já fomos procurados. Ao invés de aderir a movimentos que vão procurar obstruir a ação do Executivo nós queremos ajudar o prefeito a cumprir o seu papel, a realizar um programa efetivo de melhorias para a cidade. Mas as coisas precisam acontecer.

Pelo que nós temos conhecimento, a secretaria de planejamento desde a posse até hoje não teve um titular. Tem secretarias sem secretários até agora. A Educação começou o ano letivo sem secretário. Planejamento nunca teve. E outra coisa, acho que o secretário tem que ser da cidade. Esse negócio de trazer secretário de fora é uma coisa negativa, acho que isso não pega bem. Aqui tem muita gente com alta competência capaz de contribuir e que conhece os problemas da cidade. Trazer gente de fora não é uma boa.

JB – Na carta de convocação da reunião o sr. afirma que nenhuma proposta do Seminário “Bertioga a Riviera Paulista” organizado pela AEHRTUB teve andamento…

Nenhuma foi tocada. Nenhuma. A primeira era transformar a sede da AEHTURB em centro de atendimento ao turista. Colocar lá três computadores, telefones e um pessoal capacitado para atender o turista. Um centro de recepção ao turista. Como já tem em outras cidades. Os outros municípios todos já criaram. Inclusive tem uma verba da AGEM com o Convention Bureau. E não fizeram. O prefeito falou que era favorável. Que estava de acordo. E não aconteceu nada. Passou mais de um ano e não aconteceu nada. E nós insistimos que deveria ter sido feito antes da temporada e não aconteceu.

O Contur não está funcionando a contento também. As reuniões do Contur estão deixando a desejar. Ta faltando organização. Uma reunião tem que ser feita para dar uma contribuição, tem ser planejada, preparada, organizada pra quando a gente reunir as pessoas da comunidade, essas pessoas poderem tomar uma decisão que seja positiva ou negativa, mas uma decisão que espelhe o desejo da cidade. Os assuntos que estão sendo discutidos não são os que a comunidade está querendo discutir. Muitas sessões estão sendo convocadas sem pauta.

O prefeito é uma pessoa bem intencionada e tem que tomar algumas decisões que não podem mais ser postergadas. Não há mais tempo pra isso.

Na verdade eu vou ser um pouco duro naquilo que eu vou falar: falta apenas um ano e dez meses para o ano eleitoral. É pouco tempo. Já perderam um ano. Agora só tem dez meses deste ano e o ano que vem. O outro ano já é um ano eleitoral quando a gente sabe que uma administração dá poucos resultados. Já tem muita polêmica. Muita discussão. As correntes estão todas divididas e tende até ter um funcionamento menor da prefeitura.

Tem um prefeito, o Orlando Milan, que criou em Pariquera-Açu (Vale do Ribeira) uma cidade das nações. Ele pegou uma área e criou galpões construídos com a arquitetura típica de cada cultura: portugueses, espanhóis, árabes e assim por diante. Na época mesmo sem ter um único hotel na cidade ele atraia 50 mil pessoas por final de semana.

Eu trouxe ele aqui e ele se dispôs a ajudar. Poderia até ser naquela área da ex-Prodesan, onde tem uma quadra inteira abandonada. Um matagal, uma sujeira. Nem calçada tem lá. São valas em volta de uma área da prefeitura. Aquilo foi uma das propostas que nós fizemos no seminário entre várias que não foram aceitas.

O prefeito aprovou a carta com as propostas. O presidente da Câmara aprovou. O Secretário de turismo aprovou e infelizmente não aconteceu nada e nós ficamos tristes. Depois disso, procuramos o prefeito e ele disse: “nós vamos fazer, vamos providenciar” e não aconteceu nada.

JB – Como presidente o Sr. é muito cobrado pelos associados da AEHTURB?

Sou cobrado. Por isso é que eu estou tomando este posicionamento. Eu sou muito cobrado. O pessoal está reclamando muito e está muito insatisfeito. São empresários que acreditam na cidade. Fizeram aqui os seus investimentos, depositaram aqui as suas economias. Acreditam que Bertioga tem que ir para a frente. Eles estão recebendo críticas dos clientes que dizem: “ó, não da pra vir aqui nesta cidade mais. Esta cidade está toda esburacada. Meu carro não dá para andar aqui. Quebra o carro todo”. A gente responde que infelizmente estamos cobrando, pedindo providencias e o prefeito diz que vai fazer, que vai resolver mas não fez nada até agora.

JB – Por que o guia (roteiro de viagem Bertioga) só saiu depois da temporada se vocês estão trabalhando nele desde o começo do ano passado?

Aconteceu o seguinte: ia ter a Copa Danone aqui e vinham 40 países para o Campeonato Mundial Sub 12. Com a presença de 40 países confirmados e Bertioga não tinha nenhum material em outro idioma para apresentar para estas delegações internacionais. Um guia, um roteiro, alguma coisa que mostrasse a cidade. Eu procurei o Orlandini e disse que precisávamos fazer um material urgente e o Orlandini me fez uma proposta: “tá bom, vamos fazer o seguinte vocês empresários pagam 50% em anúncios e os outros 50% a Prefeitura paga” tudo bem, nós topamos, era uma forma da gente ajudar. Isso um ano atrás, pra sair antes do dia 12 de Outubro. Aí (o processo) atrasou na Prefeitura. A prefeitura demorou para aprovar. O dinheiro não saia. Nem sei se saiu. A última informação que eu tenho é que o dinheiro ainda não tinha saído. Nós pagamos a nossa parte e ficou faltando a parte da prefeitura. Que é um problema da prefeitura com a empresa que editou o Guia.

JB – Vocês já perderam uma temporada de uso do material….

É infelizmente vai ser usado só no fim de 2010.

JB – Quantos foram impressos?

Eram seis mil exemplares, foi impresso uma parte e a outra parte estava aguardando o pagamento da prefeitura para rodar. Acho que só rodou 50%. Nós vamos saber isso com precisão no dia 1º com a responsável pelo guia. A princípio nós sabemos que tiveram uma dificuldade para fazer o processo. Os primeiros exemplares foram distribuídos na confraternização de fim de ano da AEHTURB, 2 ou 3 exemplares para cada associado que compareceu a reunião. Isso foi no começo de dezembro.

JB – Se fala muito na qualidade de turista que os empresários do setor gostariam de ter em Bertioga. Nós já tivemos algumas iniciativas de cursos profissionalizantes do SEBRAE e outras entidades de dentro e fora da cidade. Você acha que os profissionais do comércio e de serviço estão preparados para atender um turista de alto nível?

Eu acho que isso é um processo de evolução. Bertioga tendo um turista de maior qualidade maior nível e maior potencial de consumo, os estabelecimentos naturalmente se adaptam a este tipo de cliente. Nós já temos alguns estabelecimentos já preparados.

JB – A Secretaria de Turismo investiu no Verão Azul. Foram shows em parceria com uma rádio. Na prática esta ação colocou mais gente dentro das pousadas e hotéis da cidade?

Não. Infelizmente não. Pode ter até ajudado alguma coisa. Acho que foi melhor fazer isso do que não ter nada. Não é uma programação que partiu do anseio dos empresários da gastronomia, hotelaria, náutica e turismo. Foi feito meio alheio. Contrataram um grupo que desenvolveu um programa, nós até ajudamos, mas achamos que pode ser feita uma programação com mais objetividade em cima de trazer um fluxo turístico para Bertioga. Uma programação mais de acordo com a experiência dos empresários aqui da cidade para atrair um público de fora. E acho que faltou uma divulgação externa. Foi divulgado aqui internamente, mas, externamente não foi feito. Não se usou a televisão. Nem a televisão regional. Não se usou nenhum outdoor pra fazer a divulgação nas estradas. Nós, inclusive, apresentamos um projeto ao prefeito, uma coisa simples, fazer uma identificação de todas as entradas da cidade, colocar um totem, uma coisa enorme que marcasse. Me parece que temos entre 9 ou 12 entradas na estrada. Que a gente colocasse nestes lugares um painel atraindo o turista que passa ao lado de Bertioga rumo ao litoral com os atrativos e as belezas que nós temos aqui. Nós queremos atrair este público de alto poder aquisitivo que passa aqui na estrada. É muito simples. Custaria em torno de R$ 60.000,00 pro município.

Eu gostaria de ressaltar que continuo acreditando e confiando no Orlandini. Eu sou uma pessoa otimista. Infelizmente este ano ele não deu o resultado que todos esperavam. A população que votou nele esta começando a ficar descrente: será que ele será capaz de desenvolver um programa para a cidade? Eu até me permito dizer os seguinte: se ele quer exercer apenas a ação política precisa criar na cidade uma figura nova chamada gerente de cidade, funciona em diversos países desenvolvidos é o City Manager. Este gerente é avaliado pela comunidade e se não cumprir as metas é substituído por outro profissional. Se o Orlandini não gosta de exercer o poder. Se ele não gosta de mandar. Se ele não gosta ou não quer tomar decisões, contrata um profissional. O prefeito é uma pessoa de uma delicadeza, de uma atenção, de um carinho com todas as pessoas, mas, não dá pra agradar a todos. Quem comanda tem que decidir. E quando decide às vezes contraria A ou B. É impossível agradar a todos, mas tem que fazer o que é melhor para a população, empresários e para o desenvolvimento e o progresso da cidade.

JB – Qual a sua avaliação da atuação da Secretaria de Turismo de Bertioga?

Vou falar de todas as secretarias: não apresentaram os resultados esperados e desejados. O prefeito fez uma campanha bonita. Prometeu uma radical mudança na cidade. Um projeto de embelezamento, urbanização, melhoria da auto-estima da população e nada disso aconteceu. Acho que tem que haver uma mudança radical, e nós estamos falando isso como uma contribuição. Nós não queremos polemizar nem criticar.

Eu vou insistir aqui: eu acho que amigos verdadeiros não são os que aplaudem e os que bajulam, são os que tem coragem de dizer a verdade e disposição de ajudar. Nós só queremos ajudar. Infelizmente Bertioga ainda não tem uma proposta de desenvolvimento e de administração.

JB – Enquanto você dá esta entrevista o Prefeito esta assumindo a Presidência do CONDESB. Um cargo de coordenação para as nove cidades da Baixada Santista…

Isto justifica ainda mais a necessidade de criar um administrador profissional para Bertioga, pois ele vai ter menos tempo para administrar a cidade. Por outro lado ele vai ter uma importância maior na região e poderá deslocar inclusive investimentos para cá. Projetos regionais poderão beneficiar Bertioga. Acho que é importante que ele assuma este cargo. Agora precisa de uma estrutura mais eficiente na administração da cidadeFi que ficou um ano patinando. Por exemplo, tem os recursos da AGEM para criar o centro de turismo receptivo em Bertioga, o dinheiro está lá há mais de dois ou três anos e a Secretaria de Turismo não implantou.

JB – No ano passado o Prefeito divulgou a idéia de criar uma praia de nudismo em Itaguaré, inclusive concedendo entrevista a um grande jornal da região, qual a posição da AEHTURB sobre esta idéia?

Nós somos contrários. O prefeito me disse pessoalmente que falou isso para atrair a atenção da mídia para a cidade, mas acho que isso não é positivo. Nós temos que atrair a mídia com uma cidade bem urbanizada com praias limpas. Uma população educada e treinada para o turismo receptivo.

JB – Na sua opinião o Prefeito tem a mesma avaliação da AEHTURB no tocante a sua performance e de seus comandados?

Eu já fui Prefeito por três mandatos em Cubatão. Quando a gente é prefeito o pessoal diz que está tudo bom, nos aplaudem e a gente sabe que isso não é verdade. Então o que o Prefeito tem que fazer, e é uma coisa que o Orlandini precisa fazer imediatamente: é sair na rua. Prefeito ter que ir pra rua onde está o problema. E tem que cobrar solução dos responsáveis na sua administração. A máquina da Prefeitura só funciona com cobrança. Se não tiver cobrança é uma administração lenta. Um paquiderme lento, pasmacento.

Todas as administrações públicas são assim. O Orlandini passou um ano planejando, programando. Ele tem que ir pra rua e cobrar: oh não pode ter nenhum buraco na rua, não pode ter nenhuma galeria entupida, a praia tem que estar limpa, tem que tirar essa cachorrada toda das praias e da rua, um monte de cachorro, cavalos andando na praia. Prefeito tem que ir pra rua e cobrar.

Se ele fizer isso imediatamente ele vai dar resultado e o que nós queremos é isso, resultado pra ele e pra cidade. Se ele for bem a cidade vai bem.

JB – Do jeito que esta a cidade hoje ela atrai investidores?

Difícil. Tem muita gente que acredita na potencialidade na cidade e tem tido até uma procura por áreas pensando no futuro. Mas está todo mundo pensando que vai ter uma reação e que vai ter um forte programa de reurbanização em toda a cidade.

O turista e o investidor tem que chegar aqui e dizer: é uma cidade limpa, bonita, atrativa. Ninguém que ir pra sujeira. Ninguém quer ir pra cidade mal cuidada, sem urbanização. Bertioga quer ser uma cidade turística? É o maior potencial dela, não tem outra alternativa, tem que ser uma cidade turística.

JB – Os governos que passaram até agora, incluindo este, se preocupam muito com o centro da cidade. Agora mesmo tem o projeto do Ruy Otake onde vão executar aproximadamente 1,5KM de calçadão no centro. Está correta esta visão de privilegiar o centro?

Eu acho que não está certo. Acho que precisa de um projeto de integração da cidade.

Tem que começar por onde não tem nada pra depois refazer o que já tem.

JB – O Sr. acha que o Projeto do Ruy Otake é o início desta reurbanização.

Acredito que ele é um arquiteto competente, só que acho que é apenas um plano. Um estudo. Nós queremos coisas concretas. E não é só pra 1,5 KM, nós queremos para 33 KM de praia. Fazer uma coisa pra 1,5 KM não resolve nada. Precisa ter programa pra praia inteira e começar por onde não tem. Ta começando onde já tem alguma coisa e não vai fazer nada onde não tem nada. Boracéia não tem calçadão na praia por exemplo.

Jornal da Baixada