Nas palavras de Ricardo Young (PV), ex-candidato ao Senado por São Paulo e ex-presidente do Instituto Ethos, “é preciso mudar a percepção do que são políticas públicas, para podermos prevenir e não remediar”. Essa foi a tônica das intervenções realizadas na manhã desta quarta-feira (10) durante o EXAME Fórum de Sustentabilidade 2010, que contou com a participação de várias personalidades ligadas ao tema em um debate sobre as possibilidades de uma nova economia verde, que una preservação ambiental e crescimento econômico.

Nessa linha, Young discorreu sobre as oportunidades de crescimento para o Brasil em um contexto ambiental de transformação e risco. Para ele, a sustentabilidade não é mais uma questão de opção, mas de sobrevivência para países inteiros. Criar novos marcos regulatórios e novas ferramentas de gestão, segundo ele, é um procedimento que se impõe no atual momento. “É uma questão de governança. Precisamos superar a ineficiência do sistema econômico clássico, integrando a dinâmica humana aos processos empresariais”, disse. De forma polêmica, Young também considera a aposta no petróleo uma opção antiquada, colocando o país na “contramão da história” por ser uma fonte suja de energia.

O ex-ministro Ozires Silva, por sua vez, disse que acha plenamente possível conciliar a sustentabilidade com o crescimento econômico, mas que as políticas ainda são equivocadas. “O governo abusou ao colocar o pré-sal como salvação nacional. Trata-se de uma energia suja, com um passivo ambiental terrível. Isso pode ainda se transformar na ‘maldição do petróleo’, provocando inclusive desindustrialização no país”. Apesar disso, Ozires acredita que é preciso ter visão prática para se fazer a transição de modelos. “Ainda não temos alternativas de energia limpa que sejam viáveis economicamente. Por isso, precisamos colocar recursos em pesquisas para não perdermos as oportunidades”.

De forma similar, Adriano Pires, sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), destacou que o século XXI irá derrubar o modelo de matrizes monoenergéticas, com a diminuição da importância relativa do petróleo. “O Brasil tem de olhar para o que acontece, diversificando suas fontes de energia. Mas faltam recursos, pois só se investe em petróleo”. Pires avalia que a maneira como lidamos com a situação “é a pior possível, ineficiente e poluidora”. Segundo ele, é hora de parar com os diagnósticos e agir, “buscando soluções reais para o problema”.

Já Alessandro Teixeira, presidente da Apex Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, discordou dos demais ao afirmar ser uma “ingenuidade” apostar na substituição do petróleo no curto prazo. “Não podemos fantasiar. Só 7% da energia na Europa é limpa, enquanto na China não chega a 5%”. Apesar disso, Teixeira diz que o governo precisa agir como indutor e regulador no processo, gerando mudanças nos padrões de produção e consumo. “Não é um paradoxo. O que precisamos é de uma mudança na percepção da sociedade, utilizando melhor os recursos naturais e transformando a riqueza natural do país em prosperidade. Mas trata-se de um processo de longo prazo”. Sobre sua possível participação no novo governo, Teixeira despistou: “Vai ser o que tiver de ser”.

Emílio Lèbre La Rovere, Coordenador do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente da Coppe (UFRJ), afirmou que é preciso haver uma avaliação ambiental estratégica e integrada, institucionalizando o problema ao se colocar a visão sustentável antes das variáveis econômicas. “Para isso, precisa haver abertura política e considerar todas as variáveis técnicas, seja através de agências reguladoras, grupos interministeriais e outros”.

Por fim, Maria Cecília Wey de Brito, ex-secretária de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente, afirmou que existe uma dificuldade de se transmitir à sociedade a importância da questão da sustentabilidade, traduzindo o discurso em ações práticas. “A sociedade valoriza o preço verificável e o resto é esquecido. A biodiversidade ainda não é uma moeda universal como o carbono, por isso o capital natural acaba sendo visto como um entrave ao crescimento”, afirmou a especialista.