Trepadeiras podem agravar o aquecimento global
Por HENRY FOUNTAIN
ILHA BARRO COLORADO, Panamá – Enquanto caminhava nesta ilha florestada no Canal do Panamá, Stefan Schnitzer fez uma pausa em uma das trilhas.
Ele estava cercado de árvores, cujos altos dosséis suavizavam a luz do sol tropical. Aqui e ali, trepadeiras lenhosas subiam pelos troncos grossos.
Mas a atenção de Schnitzer estava voltada a uma clareira na floresta, a poucos metros da trilha. Ali, um tronco caído estava recoberto de uma floresta de trepadeiras, cujos caules emaranhados formavam uma moita espessa. Era evidente que, quando a árvore caíra, ela tinha formado uma abertura no dossel florestal, permitindo que as trepadeiras crescessem com vigor redobrado.
“Isto é típico do que acontece em muitas florestas tropicais”, disse Schnitzer, biólogo que faz parte da Universidade do Wisconsin-Milwaukee e do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais, que tem sua sede na Cidade do Panamá e uma estação de campo nesta ilha. “Quando ocorre algum tipo de distúrbio, o resultado é esse influxo maciço de trepadeiras. Elas caem no distúrbio, mas não morrem. Simplesmente, começam a lançar caules em todas as direções. Isso é a interação trepadeiras-árvores em seu aspecto mais medonho.”
Schnitzer sabe mais do que muitas pessoas sobre interações entre árvores e trepadeiras, e o que ele sabe é preocupante. Em um artigo recente na “Ecology Letters” em que analisou as pesquisas sobre o assunto, ele confirmou algo que foi documentado pela primeira vez há quase dez anos: que os cipós estão, pouco a pouco, tomando conta de florestas tropicais da América Central e do Sul.
Agora, por meio de uma série de experimentos na Ilha Barro Colorado, Schnitzer está tentando determinar por que essas mudanças estão ocorrendo. Entender a razão pela qual as trepadeiras estão crescendo em dominância é importante em parte devido ao potencial delas de reduzir a capacidade das florestas tropicais de atuar como tanque de carbono, armazenando carbono em troncos de árvores e outros tecidos lenhosos, por meio da fotossíntese. Isso tem consequências para as mudanças climáticas.
“As florestas tropicais armazenam cerca de um terço do carbono terrestre no planeta, de modo que mudanças nas florestas tropicais vão levar a mudanças enormes no ciclo global do carbono”, disse Schnitzer.
As trepadeiras são parasitas estruturais. Elas usam as árvores como apoio a seus caules finos enquanto sobem até o dossel florestal, lugar em que produzem uma profusão de folhas.
O pesquisador Oliver Phillips, da Universidade de Leeds, na Inglaterra, publicou o primeiro artigo científico documentando o fenômeno -na Amazônia ocidental, em partes do Peru, no Equador e na Bolívia- no periódico “Nature” em 2002. O estudo foi recebido com algum ceticismo; críticos disseram que sua amostra não foi representativa, pois ele analisou apenas cipós de diâmetros grandes. Desde então, contudo, sua tese básica foi confirmada por outras pesquisas feitas na Amazônia, no norte da América do Sul e na América Central.
As trepadeiras trazem alguns benefícios, mais especialmente a animais. Elas, frequentemente, constituem uma fonte de alimento na estação seca, pois tendem a produzir flores e frutos nessa parte do ano, quando muitas árvores não o fazem. Pelo fato de os cipós tenderem a abrir caminho pelos topos das árvores, eles facilitam a passagem de animais que se deslocam pelo dossel florestal (os animais não usam cipós para se balançarem, como Tarzan, porque as trepadeiras são firmemente enraizadas no solo. Cipós balançantes são uma criação de Hollywood).
Mas as trepadeiras vencem as árvores na competição por água, luz e nutrientes no solo. Elas podem atrofiar o crescimento das árvores e, com o tempo, matá-las.
Ninguém sabe ao certo por que as trepadeiras estão vencendo a competição com as árvores. É possível que o dióxido de carbono exerça um papel nisso: as trepadeiras talvez consigam fazer uso melhor dele, fato que lhes conferiria uma vantagem, graças ao aumento dos níveis de dióxido de carbono em função da atividade humana.
Em experimento que envolveu lotes de floresta de 1.680 metros por 80 metros em uma península próxima, a equipe de Schnitzer está cortando todas as trepadeiras em metade dos lotes e vai estudar as mudanças nos lotes ao longo de várias décadas. Em outro experimento, os pesquisadores estão estudando os efeitos imediatos da remoção das trepadeiras que crescem sobre árvores a fim de testar a hipótese de que as trepadeiras não afetam diferentes espécies de árvores de maneira uniforme.
fonte: FOlha de SP