A caatinga vem perdendo por ano uma área de sua vegetação nativa equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo, revelou o primeiro monitoramento já feito sobre esse bioma.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, resta pouco mais da metade –53,62%– da cobertura vegetal original típica do semiárido nordestino.
A principal causa de desmatamento na região é a produção de energia. Abatida, a mata nativa é transformada em lenha e carvão destinados a abastecer siderúrgicas nos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo ou a mover indústrias de gesso e cerâmica instaladas no próprio semiárido.
“Sem estimularmos alternativas de geração de energia, como gás natural ou energia eólica [dos ventos], não vamos conter o desmatamento na caatinga”, observou ontem o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) ao divulgar os números do monitoramento do bioma, que só existe no Brasil.
Minc classificou de “intolerável” o ritmo do corte da vegetação no local e anunciou para breve novas ações de repressão no semiárido. Recentemente, o ministério mandou parar parte das indústrias de gesso instaladas na região.
Dados de satélite indicam que a caatinga perdeu, num período de seis anos, entre 2002 e 2008, 16.576 quilômetros quadrados de vegetação nativa. Isso equivale a 2% do bioma, que detém cerca de 10% do território nacional. O ritmo do desmatamento é semelhante ao verificado na Amazônia.
Apesar do porte menor das árvores, o abate da caatinga foi responsável pelo lançamento de 25 milhões de toneladas de carbono por ano na atmosfera.
Isso significa o dobro do corte das emissões de carbono planejado pelo governo com medidas de eficiência energética em 2020. Ou o equivalente à geração de energia por fontes alternativas, como pequenas hidrelétricas e usinas eólicas, também em 2020, conforme as metas oficiais do país.
O desmatamento na caatinga preocupa porque a região do semiárido já foi identificada como uma das áreas mais vulneráveis no Brasil às mudanças climáticas. Um terço da economia pode ser afetado com o aumento da temperatura.
Carlos Minc adiantou que o bioma também deve contar com metas para a redução do abate de árvores, da mesma forma que a Amazônia e o cerrado.
“A Amazônia é fundamental, mas o ministério não pode ser samba de uma nota só”, disse. Uma das medidas em estudo é a criação de mais unidades de conservação na caatinga, como a que será estabelecida na serra das Confusões (PI) neste mês. Áreas protegidas representam atualmente 7% do bioma.
Bahia e Ceará concentram mais da metade do desmatamento medido pelo ministério no período mais recente, até 2008. O município de Acopiara (CE) lidera o ranking. Em Alagoas, o ritmo foi menor, mas restam poucas áreas preservadas no Estado.
O padrão de corte de árvores na caatinga é diferente do verificado em outros biomas já monitorados. Nos últimos anos, os satélites mostram que o desmatamento ocorreu de forma pulverizada na região.
Folha de São Paulo