Não era nenhuma celebridade do mundo cultural, mas os aplausos duraram como se fosse uma. No centro do palco do auditório Debussy, no Palais des Festivals, David Plouffe, o coordenador da campanha de Barack Obama. Ao longo de 50 minutos, ele contou à plateia lotada as estratégias que delinearam a bem sucedida campanha que elegeu o atual presidente dos Estados Unidos.

Na base de todo trabalho está o voluntariado e o uso da tecnologia. “Fizemos uma campanha baseada no contato um para um”, destacou Plouffe, explicando que essa opção se relaciona com o fato de Obama ter em sua história fortemente relacionada à organização de comitês e trabalhos com comunidades e também por ser considerada uma forma eficiente de despertar o engajamento das pessoas, sobretudo jovens e aqueles que sem registro para votar, à sua candidatura. Afinal, quando todo o processo começou, Obama não tinha a menor chance diante da outra democrata Hillary Clinton.

O trabalho dos voluntários permitiu uma aproximação das ideias do candidato com um maior número de pessoas, afinal são pessoas da comunidade falando a mesma língua do seu vizinho, dos seus pares. “Foram nossa arma para conquistar os eleitores”, disse. O resultado é bem conhecido, a arrecadação de fundos da campanha mobilizou mais de quatro milhões de pessoas e gerou mais de US$ 500 milhões.

A relação da organização da campanha com esses doadores não se encerrava no dinheiro, a comunicação se seguia com conferências via telefones, e-mails. “Nós demos valor a essas pessoas, independente do valor doado”, destaca Plouffe. Depois de eleito, os e-mails seguem sendo enviados, o agora presidente mantém sua comunicação com a rede formada. Eles continuam sendo o reforço ou a tradução do seu discurso nas comunidades.

Além do dinheiro, outro objetivo da campanha era aumentar o número de pessoas registradas para votar, uma vez que nos Estados Unidos o voto não é obrigatório. Para fazer alguém sair de casa no dia da votação era necessário buscar seu engajamento. Nesse caso, o trabalho dos voluntários foi muito importante para apresentar o pensamento de Obama. E a orientação era “falem com o coração”. Nada de scripts decorados. “A autenticidade é um valor muito importante”, reforçou Plouffe.

Mas o sucesso não se encerra no voluntariado. Tem a atuação da tecnologia. A campanha fez uso da Internet, da televisão, aberta ou fechada; do telefone. “Estávamos em todos os lugares”, disse. Um cuidado especial da coordenação era o de afinar o discurso entre mídia, voluntários e o candidato quando ele estava falando em alguma cidade. O tema do discurso de Obama naquela comunidade era também o foco das peças criadas para TV, dos e-mails, da conversa dos voluntários, enfim, de toda a comunicação do candidato naquele local.

Outro ingrediente importante foi o tom da conversa com o eleitor. “Falamos das pessoas como adultos”. No episódio da crise econômica que se acirrou em setembro, por exemplo, a coordenação optou por veicular um vídeo de dois minutos em que Obama explicava à população sua visão da crise e como iria enfrentá-la. Nada de música ou gráficos. O candidato, em uma sala com cortinas claras ao fundo, num enquadramento em plano americano fala sobriamente sobre suas ideias.

A comunicação direta da campanha de Obama, sem dúvida, impactou no grau de engajamento das pessoas à sua candidatura. Mas, como enfatizou Plouffe, nenhuma campanha se sustenta se o candidato não tiver conteúdo. Não é, sem dúvida, o caso de Obama.

Inês Figueiró, especial para o Terra
Direto de Cannes