Conheci Barcelona antes das Olimpíadas de 1992 e quando lá voltei, poucos anos depois, encontrei outra cidade. Graças às benfeitorias que fizeram para os jogos, Barcelona viveu um processo de revitalização surpreendente, emergindo de um período de estagnação de cerca de 15 anos, iniciado com a passagem da ditadura para a democracia espanhola. Desde então, a cidade ganhou um ar cosmopolita comparável às mais influentes capitais da Europa.

Megaeventos internacionais trazem desafios para as cidades. Algumas delas tomam esse desafio à unha e deixam um legado importante para a gente local, mantendo a atratividade desses centros por anos a fio. Isso inclui amplos investimentos em infraestrutura, como estradas, transportes, habitação, escritórios, salas comerciais, tecnologia, telecomunicações, hotelaria, entre muitos outros.

Da mesma maneira que os grandes eventos esportivos, a Expo 98, que aconteceu em Lisboa, foi um marco de contemporaneidade e pioneirismo no uso de tecnologia aplicada a projetos de arquitetura, engenharia e construção. Lisboa recebeu cerca de 11 milhões de visitantes durante a Expo 98, o mesmo que toda a população do país. Obviamente, tiveram que se preparar para isso e o fizeram muito bem.

O Parque das Nações, que sediou a Expo 98, urbanizou uma área degradada e abriga hoje prédios de apartamentos e de escritórios, um grande centro de compras, galerias de arte, restaurantes e o oceanário, o segundo maior do mundo. Nem dá para calcular por quantos anos tudo isso ainda trará à cidade em termos de visitantes e renda, mas com certeza serão muitos.

Para sediar a Copa do Mundo de 2014 e, dois anos depois, as Olimpíadas, o que o Brasil e o Rio de Janeiro terão que enfrentar não será pouco.

Li recentemente que a Copa será uma oportunidade extraordinária para os produtos orgânicos, quem diria. Pensando bem, combina: atletas devem se alimentar com o que há de melhor. E, sem dúvida, alimentos saudáveis, como são os orgânicos, deveriam estar – se que já não estão – no cardápio dos competidores. A organização do Mundial já demonstrou interesse em colocar o assunto em evidência nas peças de promoção do evento e, paralelamente, planeja ações concretas nessa área. Isso fará emergir um número expressivo de atividades e ações oportunas.

É bem verdade que esporte e saúde são conceitos que andam juntos, dizem todos os manuais a respeito. Em se tratando de eventos de tamanha envergadura como Copa do Mundo e Olimpíadas, qualquer ação que incorpore esses conceitos estarão iluminadas por potentes holofotes. As chances de elas darem certo aumentarão, com certeza.

Com isso, a agricultura orgânica, que já vinha em ascensão no Brasil, pode ganhar novo impulso desde agora. Até porque não só os atletas, mas o grande contingente formado por turistas e torcedores, nacionais e internacionais que certamente estarão circulando por aqui, também consumirá alimentos. E, nesse caso, haverá gosto para tudo, tanto quanto novas oportunidades para quem estiver atento e forte.

Se der tudo certo, enfim, impulsionados pelas demandas da Copa do Mundo, os negócios de alimentos orgânicos, que já conta com uma legislação específica, restando apenas regulamentações, pode ter facilidades de se expandir. Com os esportes na ordem do dia, novos hábitos alimentares têm tudo para se estabelecer na vida das pessoas, em meio à crescente necessidade também de se ter melhor qualidade de vida no cotidiano.

Como nem só de alimentos vive o homem, assim como o segmento de orgânicos, muitos outros negócios ganharão espaço para crescer.

Dizem os especialistas que esses megaeventos podem ser muito bons ou muito ruins para uma cidade ou país. Tudo depende de como eles são organizados, vislumbrando benefícios duradouros para a população. Nós, torcedores, além de vibrar podemos fazer muito mais, principalmente pelos nossos negócios e empreendimentos.

* Antoninho Marmo Trevisan é empresário, educador e consultor. Presidente da Trevisan Escola de Negócios e membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES).