Porta-voz de Israel na ONU defende a retomada das negociações de paz na região antes que a proposta de Abbas seja analisada pelas Nações Unidas

Os palestinos insistem em se tornar o 194º estado membro das Nações Unidas (Ali Hashisho / Reuters)

Os palestinos insistem em se tornar o 194º estado membro das Nações Unidas (Ali Hashisho / Reuters)

 

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, formaliza nesta sexta-feira na Assembleia Geral da ONU, seu pedido em favor da criação de um estado palestino nas fronteiras pré-1967: formado pelos territórios de Cisjordânia e Gaza, tendo Jerusalém Oriental como capital. Os palestinos reivindicam ainda seu reconhecimento como membro da organização internacional, hoje com status de “entidade observadora” e sem direito a voto nas Nações Unidas. As chances de a proposta ser aprovada são quase nulas. A decisão precisa passar pelos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no qual Estados Unidos, China, Rússia, França e Grã-Bretanha têm poder de veto – e o presidente americano já adiantou que usará o recurso.

Em seu discurso na quarta-feira, Barack Obama reafirmou a posição como aliado de Israel, paradoxalmente ao discurso da presidente brasileira, Dilma Rousseff, que apoiou a criação de um estado palestino. Obama insistiu na necessidade de um acordo de paz antes que seja reconhecida uma nova nação, e reforçou que não existem “atalhos” para se chegar a um acordo. Afinados com os americanos também no discurso, os israelenses insistem em dar continuidade às negociações – que teve poucos avanços até o momento e estão travadas há quase um ano. “Seríamos os primeiros a reconhecer a Palestina, desde que tal decisão fosse alcançada na mesa do diálogo que gostaríamos de retomar”, destaca Jonathan Peled, porta-voz de Israel nas Nações Unidas. Em entrevista ao site de VEJA, Peled, que já representou a embaixada de Israel em Nova York, explica o posicionamento do estado judeu e diz que a preocupação é com a segurança de quem vive em uma área controlada por terroristas. Confira:

Divulgação

Jonathan Peled: porta-voz de Israel na ONU

Peled é porta-voz de Israel

O senhor se preocupa com o fato de que mais de 100 países-membros das Nações Unidas se posicionam a favor da criação de um estado palestino? Isso não é motivo de preocupação, uma vez que o próprio governo de Israel defende a criação de um estado palestino. O que o mundo precisa entender é que a criação desse novo estado deve ser o resultado final das negociações bilaterais entre israelenses e palestinos, não o começo. Seríamos os primeiros a reconhecer a Palestina, desde que tal decisão fosse alcançada na mesa do diálogo que gostaríamos de retomar.

Mas Israel e Estados Unidos parecem estar sozinhos em seu posicionamento de vetar a proposta dos palestinos na ONU. Muitos países europeus e outros membros do Conselho de Segurança entendem que um movimento unilateral da parte palestina não vai trazer avanços no sentido da paz com Israel. Ao invés de levar as duas partes ao diálogo, a resolução levantaria falsas expectativas nos territórios palestinos, sendo que nada vai mudar na prática a sua situação. Não haverá um “sim” automático aos palestinos. É sabido que a única forma de se alcançar algum avanço é por meio de negociações diretas com Israel, como o presidente Obama bem disse às Nações Unidas na quarta-feira. Mesmo que os palestinos tenham apoio suficiente na Assembleia Geral, o Conselho de Segurança não permitirá que tal decisão unilateral seja aprovada.

As negociações entre israelenses e palestinos estão estagnadas há um ano. Qual seria o primeiro passo para retomá-las? Os palestinos precisam estar dispostos a se sentar à mesa de diálogo e discutir cada ponto em discussão. Israel não tem nenhuma pré-condição para isso. Podemos não concordar em muitos pontos, mas teremos que ponderar as demandas mais urgentes. Uma vez retomadas as negociações diretas, ambos os lados devem fazer concessões e tomar decisões, mesmo que elas sejam difíceis e dolorosas.

O que temem os israelenses diante do pedido imediato de criação do estado palestino? Qualquer acordo terá que levar em consideração a segurança de Israel. Neste momento seria prematuro o reconhecimento do estado nas Nações Unidas, porque a Autoridade Palestina ainda não controla todo o território palestino. Gaza não está sob o controle de Abbas, mas é governada por uma organização terrorista, o Hamas. Os votos na ONU a favor da criação do estado palestino poderiam colaborar para o reconhecimento de uma organização terrorista no poder. Essas preocupações com a segurança serão prioritárias em nossas discussões com os palestinos para o acordo de paz. Especialmente por isso não acreditamos que esse movimento unilateral seja produtivo.

Sarkozy afirmou, em seu discurso na ONU, que um veto à proposta no Conselho de Segurança poderia incrementar a onda de violência no Oriente Médio. Prefiro não julgar votos que ainda não foram dados no Conselho de Segurança. Porém, posso dizer que toda forma de resolução nas Nações Unidas sobre o estado palestino seria “colocar o carro na frente dos bois”. O Sudão do Sul, por exemplo, só se tornou um estado independente depois de um acordo com o restante do país. Houve um diálogo longo e difícil, até que foram juntos às Nações Unidas negociar a criação de um novo estado. Algo semelhante deve haver entre Israel e Palestina.

A proposta da França é que os palestinos ganhem o status de “estado observador” – o que seria um avanço em relação ao atual, de “entidade observadora”, mas os manteria sem direito a voto nas Nações Unidas. Esta seria uma boa saída? Entendo a iniciativa francesa como um esforço no sentido de alcançar um acordo entre os dois lados e prevenir que os palestinos insistam em sua iniciativa radical diante da ONU. Por outro lado, concordamos completamente com o discurso de Obama, que foi realista e claro sobre os papéis de israelenses e palestinos neste contexto. Ambos devem defender seus direitos e precisam trabalhar duro para fazer concessões. Mas não há alternativas a não ser as negociações bilaterais e diretas.

Leia também:

O que está em jogo na votação para criar estado palestino

Entenda a guerra por territórios entre israelenses e palestinos

 

Fonte: VEJA

Porta-voz de Israel na ONU defende a retomada das negociações de paz na região antes que a proposta de Abbas seja analisada pelas Nações Unidas

Cecília Araújo
Os palestinos insistem em se tornar o 194º estado membro das Nações UnidasOs palestinos insistem em se tornar o 194º estado membro das Nações Unidas (Ali Hashisho / Reuters)

O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, formaliza nesta sexta-feira na Assembleia Geral da ONU, seu pedido em favor da criação de um estado palestino nas fronteiras pré-1967: formado pelos territórios de Cisjordânia e Gaza, tendo Jerusalém Oriental como capital. Os palestinos reivindicam ainda seu reconhecimento como membro da organização internacional, hoje com status de “entidade observadora” e sem direito a voto nas Nações Unidas. As chances de a proposta ser aprovada são quase nulas. A decisão precisa passar pelos 15 membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas, no qual Estados Unidos, China, Rússia, França e Grã-Bretanha têm poder de veto – e o presidente americano já adiantou que usará o recurso.

Em seu discurso na quarta-feira, Barack Obama reafirmou a posição como aliado de Israel, paradoxalmente ao discurso da presidente brasileira, Dilma Rousseff, que apoiou a criação de um estado palestino. Obama insistiu na necessidade de um acordo de paz antes que seja reconhecida uma nova nação, e reforçou que não existem “atalhos” para se chegar a um acordo. Afinados com os americanos também no discurso, os israelenses insistem em dar continuidade às negociações – que teve poucos avanços até o momento e estão travadas há quase um ano. “Seríamos os primeiros a reconhecer a Palestina, desde que tal decisão fosse alcançada na mesa do diálogo que gostaríamos de retomar”, destaca Jonathan Peled, porta-voz de Israel nas Nações Unidas. Em entrevista ao site de VEJA, Peled, que já representou a embaixada de Israel em Nova York, explica o posicionamento do estado judeu e diz que a preocupação é com a segurança de quem vive em uma área controlada por terroristas. Confira:

Divulgação

Jonathan Peled: porta-voz de Israel na ONU

Peled é porta-voz de Israel

O senhor se preocupa com o fato de que mais de 100 países-membros das Nações Unidas se posicionam a favor da criação de um estado palestino? Isso não é motivo de preocupação, uma vez que o próprio governo de Israel defende a criação de um estado palestino. O que o mundo precisa entender é que a criação desse novo estado deve ser o resultado final das negociações bilaterais entre israelenses e palestinos, não o começo. Seríamos os primeiros a reconhecer a Palestina, desde que tal decisão fosse alcançada na mesa do diálogo que gostaríamos de retomar.

Mas Israel e Estados Unidos parecem estar sozinhos em seu posicionamento de vetar a proposta dos palestinos na ONU. Muitos países europeus e outros membros do Conselho de Segurança entendem que um movimento unilateral da parte palestina não vai trazer avanços no sentido da paz com Israel. Ao invés de levar as duas partes ao diálogo, a resolução levantaria falsas expectativas nos territórios palestinos, sendo que nada vai mudar na prática a sua situação. Não haverá um “sim” automático aos palestinos. É sabido que a única forma de se alcançar algum avanço é por meio de negociações diretas com Israel, como o presidente Obama bem disse às Nações Unidas na quarta-feira. Mesmo que os palestinos tenham apoio suficiente na Assembleia Geral, o Conselho de Segurança não permitirá que tal decisão unilateral seja aprovada.

As negociações entre israelenses e palestinos estão estagnadas há um ano. Qual seria o primeiro passo para retomá-las? Os palestinos precisam estar dispostos a se sentar à mesa de diálogo e discutir cada ponto em discussão. Israel não tem nenhuma pré-condição para isso. Podemos não concordar em muitos pontos, mas teremos que ponderar as demandas mais urgentes. Uma vez retomadas as negociações diretas, ambos os lados devem fazer concessões e tomar decisões, mesmo que elas sejam difíceis e dolorosas.

O que temem os israelenses diante do pedido imediato de criação do estado palestino? Qualquer acordo terá que levar em consideração a segurança de Israel. Neste momento seria prematuro o reconhecimento do estado nas Nações Unidas, porque a Autoridade Palestina ainda não controla todo o território palestino. Gaza não está sob o controle de Abbas, mas é governada por uma organização terrorista, o Hamas. Os votos na ONU a favor da criação do estado palestino poderiam colaborar para o reconhecimento de uma organização terrorista no poder. Essas preocupações com a segurança serão prioritárias em nossas discussões com os palestinos para o acordo de paz. Especialmente por isso não acreditamos que esse movimento unilateral seja produtivo.

Sarkozy afirmou, em seu discurso na ONU, que um veto à proposta no Conselho de Segurança poderia incrementar a onda de violência no Oriente Médio. Prefiro não julgar votos que ainda não foram dados no Conselho de Segurança. Porém, posso dizer que toda forma de resolução nas Nações Unidas sobre o estado palestino seria “colocar o carro na frente dos bois”. O Sudão do Sul, por exemplo, só se tornou um estado independente depois de um acordo com o restante do país. Houve um diálogo longo e difícil, até que foram juntos às Nações Unidas negociar a criação de um novo estado. Algo semelhante deve haver entre Israel e Palestina.

A proposta da França é que os palestinos ganhem o status de “estado observador” – o que seria um avanço em relação ao atual, de “entidade observadora”, mas os manteria sem direito a voto nas Nações Unidas. Esta seria uma boa saída? Entendo a iniciativa francesa como um esforço no sentido de alcançar um acordo entre os dois lados e prevenir que os palestinos insistam em sua iniciativa radical diante da ONU. Por outro lado, concordamos completamente com o discurso de Obama, que foi realista e claro sobre os papéis de israelenses e palestinos neste contexto. Ambos devem defender seus direitos e precisam trabalhar duro para fazer concessões. Mas não há alternativas a não ser as negociações bilaterais e diretas.

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