Apenas cerca de 30 das 200 produtoras de sacolinhas têm fatia destinada à produção de embalagens renováveis

Para ocupar vácuo em mercado que fatura até R$ 1 bi anual, empresas disputam tecnologias mais viáveis e limpas

NATÁLIA PAIVA
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Com o fim das sacolas plásticas no Estado de São Paulo, a indústria de embalagens, que emprega mais de 30 mil no país, já reage de duas formas: protesta e faz planos para se adaptar.
Em jogo está um mercado que, por ano, fabrica 14 bilhões de sacolas e fatura de R$ 800 milhões a R$ 1 bilhão.
Hoje, cerca de 30 das 200 empresas que fabricam sacolinhas plásticas têm pequena fatia destinada à produção de embalagens feitas a partir de matriz renovável.
É o caso da Extrusa Park, empresa que supre Jundiaí e Belo Horizonte com sacolinhas “biodegradáveis compostáveis” (leia ao lado), feitas com tecnologia da Basf.
Eles saíram na frente ao apresentar, na feira da Apas (Associação Paulista dos Supermercados) do ano passado, um produto que agradasse mais aos supermercadistas do que a única alternativa existe à época, a “oxibiodegradável” (acusada de deixar partículas nocivas no solo).
Apesar de deter o monopólio do abastecimento de duas cidades que aboliram as sacolinhas, apenas 10% de sua produção é voltada às embalagens feitas com amido, até seis vezes mais cara. E a mudança de cenário assusta.
“Esse projeto para a indústria plástica não é positivo. Por mais que o faturamento unitário seja maior, não corresponde à perda de volume. Oferecemos a alternativa porque não temos outra maneira. Mas imagino que vá se reduzir o número de empregados e de equipamentos”, diz Gisele Barbin, gerente comercial da Extrusa.
Em Jundiaí, que baniu as sacolas comuns no fim do ano passado, as ecológicas vendidas nos caixas dos supermercados só ocuparam 5% do “mercado” -o resto foi preenchido por carrinhos de feira e retornáveis.
A Apas estima que o consumo anual de sacolas no Estado cairá 90%, para 258 milhões de unidades. Ou seja, o mercado irá diminuir muito.
“Eu diria que cerca de 6.000 empregos em São Paulo estarão em jogo. Gostaríamos de ser chamados para a discussão”, diz Alfredo Schmitt, presidente da Abief (associação da indústria de embalagem flexível).

DISPUTA
As embalagens oxibiodegradáveis (decompostas no ar) e as hidrobiodegradáveis (água) disputam o mercado que sobrar. Cada tecnologia encomenda estudos para parecer mais “verde”.
A oxibiodegradável leva 1% de um composto acusado de deixar resíduos poluentes no ambiente. Os defensores refutam. A vantagem é que sua produção custa de 6% a 7% a mais do que o plástico comum. Em Belo Horizonte, lojistas afirmam que pagam até 50% mais por elas.
Nos países que baniram as sacolinhas, houve redução da quantidade de papel e de plástico nas embalagens. Consumidores também passaram a usar menos sacolas.
“O consumidor vai querer usar bem aquilo que paga; vai levar muito menos sacolas para uma mesma compra, vai ter que levar a sacola retornável e se programar para as compras”, diz João Sanzovo, diretor da Apas.
A principal resistência, contudo, vem dos que usam sacolas plásticas para o lixo.
Com o fim das sacolas em Jundiaí, o consumo de sacos pretos cresceu em 20 toneladas. Mas estes já são produzido com plástico reciclado.

Fonte: Folha de S. Paulo