Vinte anos depois do superpetroleiro Exxon Valdez derramar quase 41 milhões de litros de petróleo na enseada do Príncipe Guilherme, no sul do Alasca, tudo está novamente limpo e natural, certo? Não exatamente. Um estudo de 2004 estimou que talvez 95 mil litros de petróleo continuem ao longo das praias de cascalho da enseada, decompondo-se bem lentamente.

Isso provocou uma dúvida nos pesquisadores: por que, apesar de uma das maiores limpezas ambientais da história, parte do petróleo continua no local? Michel C. Boufadel, engenheiro ambiental da Universidade Temple, e seu colega Hailong Li, têm uma resposta.

Em artigo publicado na Nature Geoscience, eles contam que o petróleo ficou preso em uma zona de baixa permeabilidade abaixo da superfície da praia. “Só poderíamos responder a essa pergunta entendendo o movimento da água nessas praias”, disse Boufadel.

Medições de campo mostraram que as praias têm duas camadas – uma superior, com poucos centímetros de espessura, que é quase mil vezes mais permeável que a camada abaixo. A composição das duas não é muito diferente, afirma Boufadel, mas é bem provável que a força das marés tenha compactado a inferior até torná-la menos permeável.

Segundo Boufadel, o petróleo flutuando sobre a água permaneceu na camada superior até que mudanças no lençol d’água permitiram que ele escorresse lentamente até a camada inferior, onde ficou. “Na camada inferior não existe movimento e oxigênio suficientes para degradar o petróleo”, disse ele.

Mas o petróleo é liberado quando lontras ou outras criaturas cavam nas praias. Mesmo nos estudos de campo, afirma Boufadel, quando elas cavavam até os sedimentos mais profundos, “o lugar inteiro cheirava a petróleo”. Uma possibilidade para limpar o petróleo preso, explica Boufadel, seria injetar substâncias na camada inferior que promovessem a biodegradação.

The New York Times