Preocupado com poluição em massa sofrida pelo rio Ganges, o governo indiano teve que destinar verbas milionárias a um novo plano para purificar o principal rio sagrado dos hindus, que dá sustento a centenas de milhões de pessoas. “A situação é grave: existem áreas com tanta poluição que nada consegue viver nelas. A poluição e a exploração excessivas são os principais problemas do rio”, disse o especialista Parikshit Gautam, da organização WWF.

O governo criou este ano a Autoridade Nacional da Bacia do Rio Ganges (NGRBA, em inglês), que decidiu em sua primeira reunião, em outubro, eliminar totalmente o esgoto não tratado de águas residuais ou industriais no rio até 2020. Mas a tarefa é titânica: segundo o ministro do Meio Ambiente indiano, Jairam Ramesh, o Ganges recebe 3 bilhões de litros de dejetos por dia, e dois terços desta quantidade passam para o rio sem nenhum tipo de tratamento prévio.

Para atenuar a alarmante situação, o governo estima ser necessário um investimento de cerca de US$ 3,2 bilhões nos próximos dez anos em instalação de infraestruturas dentro da “Missão Ganges Limpo”, para o qual já conta com o apoio do Banco Mundial. “(O rio) é pressionado pela produção em expansão, pelas indústrias e pelo desenvolvimento urbano”, disse este mês, em Nova Délhi, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, após destinar uma ajuda inicial de US$ 1 bilhão ao projeto.

“O banco começará seu compromisso fomentando a troca de experiências relevantes. Esperamos que isso ajude a melhorar a gestão desta grande bacia fluvial que sustenta 400 milhões de pessoas só na Índia”, acrescentou. Após um plano de 1985 que, segundo os ativistas, terminou em fracasso, o governo decidiu agora dividir a despesa entre a Administração central e as regionais, que deverão elaborar relatórios cíclicos sobre o estado das áreas mais poluídas.

A bacia do Ganges garante vida a um terço das terras que fazem parte da Índia, e sua passagem pelo subcontinente não só testemunhou a existência de civilizações milenares, mas dá sustento a uma em cada 12 pessoas do mundo. Além disso, o Ganges é muito mais que um rio: os hindus o consideram sagrado e milhões de pessoas vão até ele todos os anos em peregrinação, encorajadas pelo fato de que suas águas não só lavam os pecados, mas libertam do ciclo das reencarnações.

No trecho da cidade de Benares, o Ganges contém 60 mil coliformes fecais para cada 100 mililitros, 120 vezes a mais que o limite considerado seguro para o banho, o que não impede que os peregrinos entrem em suas águas para se purificar. “Os festivos religiosos ocorrem há muitos anos, há muitas feiras. Mas isso pode melhorar, por exemplo, tomando medidas de higiene para que o rio não seja afetado pelas más condições de salubridade”, afirmou Gautam.

Além dos resíduos biológicos, várias indústrias situadas na margem lançam resíduos de cromo e outros metais no rio, que está submetido a uma intensa pressão pela construção em massa de represas em seus afluentes. Segundo a WWF, 95% da água do Ganges é desviada de seu leito antes da desembocadura, o que aumenta a presença de sedimentos e causa a morte ou a migração de espécies autóctones, como o golfinho-do-ganges.

“Está confinado em algumas faixas isoladas entre si. Estimamos que restam apenas cerca de 2 mil golfinho-do-ganges no sistema do rio, e sua população está em franco declive”, disse o especialista, em alerta pela ameaça extra da mudança climática. A solução, disse, está em acabar com a poluição industrial e garantir um nível mínimo no rio, algo que só pode ser alcançado com o plano estatal “se os objetivos e o desenvolvimento forem os adequados”, ao contrário do que acontece até agora.

Agência EFE