DESDE A SUA criação, em 1991, por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, o Mercosul trouxe benefícios a seus participantes, sobretudo econômicos. As trocas comerciais aumentaram muito, incluindo bens de alto valor agregado: quase 90% das exportações brasileiras para a Argentina no ano passado foram de produtos industrializados, e 85% das exportações argentinas para o Brasil também. Ainda em 2008 houve um fluxo comercial recorde entre os dois países -de quase US$ 31 bilhões. Uruguai e Paraguai, as menores economias do bloco, tiveram acesso aos mercados brasileiro e argentino.

É chegada a hora, porém, da busca da integração social e cultural, porque o fato é que os povos que formam o Mercosul não se conhecem. Precisam fazê-lo, até para que possam apoiar-se mutuamente no desafio de resgatar da pobreza largas faixas da população das quatro nações.

O Mercosul tem de ser mais do que um espaço de negócios. Precisamos também partilhar a riqueza cultural e nossas melhores qualidades: a espontânea curiosidade pelo outro, o gosto pelas cores e ritmos, a arte. O mais importante é que as comunidades se integrem. Para tanto, devemos estimular as relações interpessoais entre os cidadãos de nossos países, levando para a vida civil o que se faz na política e na economia. Aprendendo mais uns sobre os outros, descobriremos enfim os grandes elos que nos ligam neste quadro de diversidade decorrente da simbiose das matrizes portuguesa, negra, espanhola e indígena.

Há medidas práticas a serem tomadas para tanto. Precisamos de mais intercâmbio de estudantes entre os países do Mercosul. Vital é o crescimento do turismo dentro do bloco, o que inclui ações conjuntas visando a atração de visitantes do hemisfério Norte para a América do Sul, e não para cada um dos países isoladamente. Os investimentos em infraestrutura são pré-requisitos para o desenvolvimento e para o intercâmbio sociocultural, mas devem ser priorizados os bilaterais, com envolvimento de duas ou mais nações, de modo que as relações entre empresários, executivos e trabalhadores também se deem de forma mais pessoal e profunda.

Mas talvez nada seja tão importante quanto instituirmos a educação bilíngue. O espanhol e o português devem ser ensinados a todas as crianças, dando-lhes a capacidade de se comunicarem em todo o continente. Sem que precisemos renunciar à visão de mundo e às políticas próprias de cada nação, nós, membros do Mercosul, podemos caminhar juntos e fortalecidos em direção a um amanhã de progresso e de bem-estar.

EMÍLIO ODEBRECHT