Os erros revelados recentemente em um relatório da ONU sobre mudanças climáticas não invalidam os dados científicos que mostram a necessidade de ações para evitar as consequências dessas mudanças, segundo afirma o principal cientista responsável pelo documento.
Em entrevista à BBC, o indiano Rajendra Pachauri, presidente do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), disse que o 4º relatório do órgão, divulgado em 2007, continha apenas um grande erro, mas que esse erro já foi admitido publicamente e corrigido.

O IPCC reconheceu no mês passado que o relatório havia se equivocado ao afirmar que as geleiras do Himalaia poderiam desaparecer até 2035. “Há claramente um erro que ocorreu, infelizmente, mas que reconhecemos e expressamos nosso arrependimento. Mas há uma grande quantidade de dados científicos lá. O relatório do IPCC é um grande trabalho, e acho que tudo o que dissemos lá é totalmente válido”, afirmou Pachauri antes da Cúpula sobre Desenvolvimento Sustentável do IPCC, iniciada nesta sexta-feira em Nova Déli.

“Nós mostramos claramente que os impactos das mudanças climáticas, se não fizermos nada, vão se tornar progressivamente mais sérios. Não é só uma questão de aquecimento, é também a ocorrência de problemas com eventos climáticos extremos com um grande impacto na sociedade”, afirmou o cientista da ONU.
Críticas pessoais

Pachauri foi pessoalmente criticado sobre sua conduta no caso, por não ter tomado providências apesar de ter supostamente tomado conhecimento do erro no relatório antes da cúpula global sobre o clima em Copenhague, em dezembro.

O presidente do IPCC rebateu durante a entrevista as pressões para sua renúncia, afirmando que as polêmicas que o envolvem não devem desviar a atenção sobre o debate central em relação às mudanças climáticas. “Não acho que o mundo vai se distrair (da discussão central). Não acho que a comunidade científica vai se distrair”, afirmou.

Pachauri rebateu ainda as acusações de que teria se beneficiado financeiramente do comércio de crédito de carbono com empresas privadas por meio de sua posição como presidente do Instituto de Pesquisas Energéticas (Teri, na sigla em inglês).

Segundo ele, todo o dinheiro que ele recebe com seu trabalho de consultoria para empresas privadas é revertido ao instituto, que é uma organização sem fins lucrativos com o objetivo de levar energia solar a pessoas sem acesso a energia elétrica.

“Nem um centavo (dos pagamentos por seu trabalho de consultoria privada) vai para o meu bolso”, afirmou.

Cúpulas
A reunião de Nova Déli é a primeira conferência mundial sobre mudanças climáticas desde o fracasso da cúpula global de Copenhague, no ano passado, que falhou em conseguir um acordo mundial para cortes nas emissões de gases para o combate às mudanças climáticas.

Os negociadores da ONU esperam que um acordo global possa ser alcançado até a próxima grande cúpula sobre o clima, programada para o final do ano na Cidade do México. Porém muitos temem que as polêmicas envolvendo os erros cometidos pelo IPCC e a conduta pessoal de Pachauri possam alimentar os argumentos daqueles que consideram “alarmistas” as recomendações dos relatórios da ONU.

No final do ano passado, o IPCC já havia rebatido acusações de que dados coletados pela Unidade de Pesquisas Climáticas da Universidade de East Anglia, na Grã-Bretanha, teriam sido manipulados após o vazamento de centenas de e-mails trocados por pesquisadores da universidade e de outras instituições sugerindo que dados que contrariavam a teoria de que o aquecimento global é resultado de ações humanas estariam sendo descartadas.

BBC Brasil