A poucos dias da data marcada para o leilão da hidrelétrica de Belo Monte, a temperatura subiu no embate entre governo e empresas interessadas no leilão. Oficialmente fora do certame do empreendimento que será erguido no Rio Xingu (PA), as construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht avisaram na quarta-feira que não encontraram condições econômico-financeiras para participar do leilão.

Porém, há quem interprete o gesto como um blefe do grupo. Ontem o presidente Lula mostrou- se firme ao garantir que a construção da usina será feita. “Uma coisa vocês podem estar certos: nós vamos fazer Belo Monte. Isso é importante que fique claro em alto e bom som. Entrem (consórcios na disputa) ou não entrem”, disse, reiterando que vai fazer o leilão e espera que tenha três, quatro, cinco ou mais grupos interessados na disputa.

A mesma Camargo admite retornar à disputa pelo projeto, prevista para o próximo dia 20, caso o governo reveja o preço teto do leilão, de R$ 83 por megawatt/ hora (MWh). Respaldada pela experiência de construção de outras mega-hidrelétricas, como Tucuruí (PA) e Itaipu (PR), a Camargo também admite a expectativa de entrar posteriormente no empreendimento de 11 mil megawatts (MW) – depois do leilão -, na condição de epecista (da sigla em inglês EPC, que significa engineering, procurement and construction).

A Camargo, assim como a própria Odebrecht, argumenta que nenhuma outra construtora — mesmo as alinhadas nos consórcio pré-inscritos para o leilão — tem a experiência necessária para esse tipo de empreendimento. Daí a certeza de que a Eletrobras terá que recorrer às duas para viabilizar a usina até 2015, prazo tido pelo governo como necessário para assegurar a continuidade de um crescimento acima de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) nos próximos anos.

Executivos ligados às duas construtoras admitem, no entanto, que, se isso ocorrer, o empreendimento sairá mais caro do que o inicialmente previsto. Com a agravante, ainda, de que o custo recairá sobre a holding Eletrobras, cujas subsidiárias participarão do projeto na condição de minoritárias no consórcio vencedor, com 49%.

Um executivo ligado ao consórcio revela que, só em infraestrutura para a obra, como máquinas e equipamentos, o consórcio vencedor terá que desembolsar cerca de R$ 1 bilhão.

Risco
A saída das duas construtoras da disputa representou um movimento de risco, cujas chances de sucesso aumentam com as pressões do Ministério Público Federal pelo adiamento do leilão. A mesma fonte chega a argumentar que um adiamento, nessa altura do campeonato, passou a interessar também ao governo. Com mais tempo para negociar, o Ministério de Minas e Energia e as construtoras podem chegar a uma solução consensual e honrosa.

A medir pelas palavras do presidente no dia de ontem, há uma chance de que isso realmente seja uma alternativa. “Nós precisamos encontrar o preço justo e não o preço que alguém quer nos impor. Não queremos que o empresário tenha prejuízo nem queremos que o consumidor de energia pague lucros exorbitantes. Tem um caminho no meio e nós sabemos qual é”, declarou o presidente Lula, lembrando que polêmica semelhante aconteceu quando estava sendo feito o leilão para as usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. A seguir, cenas dos próximos capítulos.

Folha de São Paulo