É cada vez maior entre negociadores internacionais o sentimento de que o mundo ficará sem um acordo de proteção ao clima por algum tempo após 2012, quando expira a primeira fase do Protocolo de Kyoto.
Brasileiros ligados à discussão ouvidos pela Folha afirmam que seria ambicioso demais até mesmo ter o desenho do novo acordo pronto na conferência de Cancún, em novembro.
No máximo, alguns pontos pendentes desde a malfadada conferência do clima de Copenhague seriam resolvidos neste ano.
ADIAMENTO
O debate mais importante –quanto os países se dispõem a cortar em suas emissões de gases de efeito estufa– só começaria no ano que vem, na reunião da África do Sul. E nada garante que ele seja resolvido lá.
Como leva um tempo entre a adoção de um acordo internacional e sua ratificação pelos parlamentos dos países (Kyoto, por exemplo, levou oito anos para ser ratificado), dificilmente um tratado entraria em vigor em 2013.
É o que os especialistas chamam de “buraco de implementação”.
“Isso teria impactos na luta contra o aquecimento global, sobre o mercado de carbono e sobre o próprio mercado”, diz Luiz Alberto Figueiredo Machado, negociador-chefe do Brasil.
Segundo ele, o buraco de implementação poderia sinalizar para a economia que tecnologias limpas não são uma prioridade de investimento, retardando sua entrada no mercado.
Foi o que aconteceu com o setor de energia limpa nos EUA em 2001, depois que o presidente George W. Bush rejeitou Kyoto.
“Quero que em Cancún sejam dados passos na direção certa, independentemente de chegarmos ao resultado ou não”, afirma Figueiredo.
O problema é que “ninguém consegue entrar em acordo sobre qual é o caminho”, diz o cientista político David Victor, da Universidade da Califórnia em San Diego, nos EUA.
A CURTOS PASSOS
“O buraco é muito mais do que de implementação. Há um vácuo internacional de governança”, afirma Victor. Nesse vácuo, diz, será difícil levantar dinheiro para projetos como para redução de emissões por desmatamento.
Cancún pode ter avanços: é possível que seja anunciada a criação de centros regionais de tecnologias limpas, que usariam a verba de US$ 30 bilhões até 2012 combinada em Copenhague.
Mas o principal avanço, paradoxalmente, deve ser a morte oficial do Acordo de Copenhague.
FSP