É preciso tomar cuidado para não superestimar os danos ambientais causados pelo acidente em Campos

No dia 8 deste mês foi detectada a existência de uma grande mancha de óleo em águas da bacia de Campos, no litoral do Rio de Janeiro, associada à operação de perfuração de um poço de petróleo no campo de Frade.

Quando ocorrem eventos dessa natureza, a mídia procura identificar vilões e buscar respostas imediatas, políticos se manifestam e o mais difícil é conseguir que as pessoas consigam pensar e agir com equilíbrio e com serenidade num ambiente em que praticamente não existe espaço para o contraditório.

Apesar de poucos dados terem sido disponibilizados sobre o acidente, que certamente será objeto de estudos técnicos detalhados para a precisa identificação de suas causas, suas consequências e para a adoção de medidas que visem ao bloqueio da ocorrência de situações semelhantes, algumas inferências já podem ser feitas.

Pelo apurado até o momento, não houve nenhuma falha de equipamentos ou procedimento mal executado envolvendo companhias prestadoras de serviço contratadas para o campo. Ao que tudo indica, a execução do projeto do poço foi seguida à risca e, portanto, parece no mínimo prematuro atribuir culpa e propor sanções a quem não tem como sua função e competência conhecer as condições geológicas locais. Aliás, as próprias declarações da Chevron foram nesse sentido.

Muito se fala dos danos ambientais causados, mas precisamos tomar cuidados para não superestimá-los. Os volumes de óleo que “vazaram” pelo fundo do mar até foram significativos, mas seus efeitos nem tanto. As correntes locais e o fenômeno da ressurgência naquela região fazem com que eventuais manchas de óleo existentes no espelho d’água se afastem da costa e se desloquem para o Sul.

Com o tempo, o óleo, que é mais leve do que a água, vai se espalhando e formando manchas cada vez maiores em área, porém de espessura cada vez menor, chegando a fração de milímetro, o que facilita não só a evaporação de boa parte do volume como também sua degradação natural por microorganismos existentes no mar. Em relativamente pouco tempo, a mancha acaba desaparecendo sem atingir a costa. Esse pelo menos é o histórico de todas as ocorrências semelhantes na bacia de Campos.

O acidente também abriu espaço para o afloramento de posições ideológicas sobre quem pode ou não atuar nesse setor no Brasil. Nunca é demais lembrar que em um consórcio, como é o caso do campo de Frade, uma empresa é escolhida como operadora, mas as decisões técnicas e operacionais a serem adotadas são discutidas e aprovadas em comitês com representantes dos consorciados.

Nesse consórcio estão duas dentre as cinco maiores companhias de petróleo do mundo, e entre elas está aquela que é, seguramente, a mais experiente em águas profundas. Explorar petróleo é uma atividade que, por mais conhecimento e tecnologia que sejam usados, envolve riscos e sempre é possível acontecer algo inesperado quando está se lidando com a natureza. Aliás, é difícil elencar algum setor relevante da atividade econômica no qual não existam riscos e acidentes.

Assim, melhor seria deixar os excessos de lado e concentrar esforços em absorver os ensinamentos que esse acidente nos traz, já que há muito ainda a ser feito na indústria do petróleo no Brasil. É importante lembrar que, para o desenvolvimento desse setor, a maior restrição está na falta de recursos. Seria muito prejudicial ao Brasil eliminar, de maneira precipitada, investidores altamente qualificados.

É claro que, uma vez que tenha havido erro da Chevron, e a própria empresa reconheceu que houve, ela deva ser multada. Seria ruim, no entanto, se diferentes agentes do debate público no Brasil entrassem em uma espécie de competição para ver quem se apresenta como mais agressivo nas propostas de punições e consequências relacionadas ao acidente. Mesmo do ponto de vista moral, um dos princípios fundamentais do conceito de justiça é o equilíbrio entre a falta e a punição. Afastar-se desse equilíbrio seria não só incorreto como um grave equívoco devido aos seus efeitos colaterais.

RODOLFO LANDIM, 54, engenheiro-civil e de petróleo, é presidente da YXC Oil & Gas e sócio-diretor da Mare Investimentos. Trabalhou na Petrobras, onde, entre outras funções, foi diretor-gerente de exploração e produção e presidente da Petrobras Distribuidora. Escreve, às sextas-feiras, a cada duas semanas, nesta coluna.

AMANHÃ EM MERCADO:
Kátia Abreu

fonte: folha de sp