A saída de Saddam Hussein parece resultado tímido para os custos da aventura dos EUA no Iraque
SÉRGIO DÁVILA
EDITOR-EXECUTIVO
A Guerra do Iraque termina não com um estrondo, mas com o leve deslizar da bandeira enrolada dos soldados norte-americanos para dentro de um canudo de tecido camuflado.
Termina como começou: unilateralmente. Os Estados Unidos decidiram sozinhos invadir o país, liderando depois uma coalizão, batizada de “coalizão da boa vontade”, formada inicialmente pelo Reino Unido, pela Austrália e pela Polônia. Também sozinhos decidiram sair do país, depois de nove anos de pressão pública internacional e de uma retirada escalonada posta em prática pelo governo de Barack Obama já no início do mandato, em janeiro de 2009.
O democrata cumpre uma promessa de campanha presidencial às vésperas do começo de outra. Internamente, o ato deve reenergizar a base eleitoral obamista num momento em que a oposição republicana se agrupa em torno de dois nomes, Mitt Romney e Newt Gingrich, que foram favoráveis à invasão desde a primeira bomba.
No cenário externo, os EUA saem arranhados do episódio. Um ditador brutal foi derrubado, capturado, julgado e morto, mas a saída de Saddam Hussein parece um resultado tímido demais para os custos humanos, financeiros e de imagem da aventura norte-americana no Iraque.
Além disso, é razoável supor que, se a guerra não tivesse ocorrido e a ditadura sobrevivesse, Saddam também teria sido afetado pela onda da Primavera Árabe, que, desde o começo do ano, vem derrubando governos.
Por fim, o país que os EUA deixam padece dos efeitos de nove anos de falta da “responsabilidade ao proteger” invocada pela presidente Dilma Rousseff em discurso na última Assembleia da ONU.
O governo que fica é fraco, e o sistema político, ineficiente; a Justiça é parcial e a tensão sectária persiste. A influência iraniana aumentou no sul -e o vácuo de poder deve facilitar seu crescimento-, e no norte curdo continua a luta pelo poder. Há petróleo, mas não regras claras para a divisão de royalties.
A identificação de uma fotografia no site do jornal “The New York Times” sintetiza a situação: “O Iraque é um país que não está exatamente em guerra e não está exatamente em paz”.
fonte: folha de sp