O empresário Sebastián Piñera, 60, da coalizão de centro-direita Aliança pelo Chile, foi eleito ontem o novo presidente chileno. O pleito marca o fim de um ciclo de 20 anos de poder da Concertação -a coalizão de centro-esquerda que governa o país desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). Ele assume o cargo em 11 de março para um mandato de quatro anos, sem direito à reeleição.

Com 99,2% das urnas apuradas, Piñera se impunha com 51,61% dos votos válidos, contra 48,38% do senador e ex-presidente Eduardo Frei (1994-1999), que diminuiu a desvantagem do primeiro turno -quando perdeu por 44% a 29%-, mas não conseguiu reverter a derrota.

A vitória de Piñera é o primeiro triunfo da direita em uma eleição presidencial no país desde 1958. Foi a segunda vez que o empresário disputou o Palácio de La Moneda -em janeiro de 2006, perdeu o segundo turno por 486 mil votos para a socialista Michelle Bachelet, que deixa o cargo beirando 80% de aprovação, o maior índice desde 1990.

Essa popularidade mostrou ter componentes mais pessoais do que políticos, por não se transferir a Frei, 67, que enfrentou o desgaste natural da Concertação e o debilitamento da unidade interna desta.

Falta de coesão expressa na divisão da esquerda no primeiro turno, que competiu com três nomes -dois deles de dissidentes da Concertação, entre eles o deputado Marco Enríquez-Ominami, 36. Disputando como independente, conseguiu 20% dos votos.

Mais rico do Chile
Renovação e mudança foram os eixos da campanha de Piñera, o homem mais rico do Chile, dono de patrimônio estimado em US$ 1 bilhão”. Entre seus negócios estão 26% da principal empresa aérea do Chile, a LAN, 14% do clube local de futebol mais popular, o Colo-Colo e 100% da TV Chilevisión. Durante a campanha, ele prometeu vender suas ações da companhia aérea, transferir às da TV a uma fundação e manter as da equipe de futebol.

Em seu primeiro discurso como presidente eleito, Piñera disse que fará um “governo de unidade nacional para todos os chilenos”. Agradeceu à Concertação pelo “muito bem que fez pelo Chile nos últimos 20 anos” e afirmou que buscará o “caminho do diálogo e do acordo”. Disse, contudo, que há uma “nova maioria” no país.

Piñera fez fortuna nos anos 80 como pioneiro dos cartões de crédito no Chile. Votou contra a ditadura no plebiscito de 1988 e foi eleito o senador mais jovem do país em 1990.

Criticado pela esquerda por ter o apoio de setores que sustentaram a ditadura militar, Piñera se moveu ao centro na eleição, acenando com propostas liberais como a união civil homossexual e a entrega gratuita da pílula do dia seguinte.
Numa campanha de debate centrado mais em como fazer melhor as coisas do que em mudanças radicais, Piñera prometeu ampliar a rede de proteção social que é marca registrada da Concertação e retomar o ritmo de crescimento da economia mediante ganhos de gestão, criando 1 milhão de empregos.

Frei reconheceu a derrota às 19h43 (horário de Brasília). Defendeu o diálogo com o novo governo e os êxitos de sua coalizão, invocando a unidade da centro-esquerda. “Nosso projeto segue vigente.”

Em que pese sua importância, a campanha não entusiasmou os chilenos. Fruto de consensos sobre o rumo do país, como resume o professor aposentado Germán Echeverria, 73, eleitor de Frei, morador da periferia de Santiago. “Com Piñera ou Frei, seguirá governando a economia de mercado.”

Folha de São Paulo