Sentado na cadeira de jornalista, Matthew Winkler é perito em seu ofício. Editor-chefe da agência de notícias Bloomberg News, onde trabalha desde 1990, Winkler é reconhecido pelo estilo exigente e tempestuoso com que lida com a rotina da reportagem, tudo para ter boas histórias. Sob sua tutela, já recrutou e treinou mais de 1,5 mil jornalistas em 146 escritórios da agência ao redor do mundo. Winkler acompanha tudo de perto. No mês passado, via Twitter, desferiu uma saraivada de críticas a jornalistas da agência que, segundo ele, andavam publicando comentários opinativos na rede social.

Na cadeira de entrevistado, Winkler assume um perfil mais moderado, principalmente quando se trata de temas sensíveis com o futuro da mídia e os desafios impostos pela internet. Para ele, não há razões para perder o sono. “Vivemos na era da expressão espontânea e, graças ao alcance da internet, abriram-se grandes oportunidades para nós”, diz Winkler, em entrevista ao Valor, por telefone. “Cada vez mais as pessoas querem informações, e esse conteúdo só terá valor se for bom e confiável.”

Perguntado sobre o efeito que serviços de busca como o do Google têm causado no setor – o site é alvo frequente de críticas por exibir conteúdo de terceiros sem pagar por isso -, Winkler disse que preferia não citar essa ou aquela empresa, mas que acredita “na livre informação, na notícia precisa e, sim, no respeito aos direitos autorais.”

As apostas da Bloomberg, no entanto, não se amparam só no mundo digital. Em outubro de 2009, a McGraw-Hill, editora proprietária da Standard & Poor’s, vendeu a revista “BusinessWeek” à Bloomberg por US$ 5 milhões. Fundada em 1929, a “BusinessWeek” fechou o ano com 4,7 milhões de leitores em 140 países, mas no ano passado amargou um dos piores prejuízos de sua história. “Foi uma aquisição extraordinária, passamos a ter a oportunidade de somar nossas experiências e chegar diretamente ao leitor”, comenta Winkler.

Os movimentos desenhados pelo editor são acompanhados com lupa por um leitor que Winkler define como seu “cliente mais importante”. Michael Bloomberg, fundador da agência, foi eleito no fim do ano passado para seu terceiro mandato como prefeito de Nova York. O empresário das comunicações, segundo Winkler, está totalmente afastado das operações diárias da agência.

“Mas é um leitor assíduo”, afirma. A expansão da agência também envolve as operações no Brasil. Hoje, Matthew Winkler participa de um evento em São Paulo para lançar um terminal de informações financeiras com conteúdo 100% em português. O encontro será acompanhado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A cobertura jornalística, segundo Winkler, vai acompanhar os principais movimentos da economia nacional. Até então, a Bloomberg oferecia conteúdo traduzido apenas para jornais.

Agora, o serviço será ampliado e estendido a instituições financeiras. A agência, que contava com 17 jornalistas, passa a ter 31 profissionais distribuídos entre São Paulo, Rio e Brasília. Ao ser questionado sobre o investimento da agência para o país, Winkler recorre à máxima que certamente cansou de ouvir nos últimos anos: “Desculpe-me, mas não estou autorizado a comentar.”

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