Nações em desenvolvimento conduzem o crescimento com taxas de adoção maiores do que países industrializados

Apenas 15 anos depois da comercialização, as plantações biotecnológicas acumuladas ultrapassaram 1 bilhão de hectares em 2010, um marco que significa que essas plantações vieram para ficar, de acordo com Clive James, autor do relatório anual apresentado hoje pelo ISAAA (International Service for the Acquisition of Agri-biotech Applications, Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações Biotecnológicas Agrícolas). 

O bilionésimo hectare foi plantado em 2010 por um dos 15,4 milhões de agricultores de 29 países que, atualmente, tiram proveito da tecnologia. Para fins de comparação, 1 bilhão de hectares equivale aproximadamente à vasta área de terra da China ou dos EUA. Com um aumento sem precedentes de 87 vezes entre 1996 e 2010, as plantações biotecnológicas são a tecnologia agrícola adotada mais rapidamente na história da agricultura moderna, segundo James, presidente e fundador do ISAAA. 

“O crescimento permanece intenso, com a área em hectares da biotecnologia aumentando 14 milhões de hectares, ou seja, 10 por cento, entre 2009 e 2010”, afirmou James. “Esse é o segundo maior aumento anual em hectares já visto, fazendo com que as plantações globais de 2010 atinjam 148 milhões de hectares.”

Pela primeira vez, em 2010, os dez principais países que cultivam plantações biotecnológicas possuem mais de 1 milhão de hectares em produção, proporcionando uma base sólida e ampla para o futuro crescimento. Na ordem de área em hectares, eles são: EUA (66,8 milhões), Brasil (25,4 milhões), Argentina (22,9 milhões), Índia (9,4 milhões), Canadá (8,8 milhões), China (3,5 milhões), Paraguai (2,6 milhões), Paquistão (2,4 milhões), África do Sul (2,2 milhões) e Uruguai (1,1 milhão).

Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil teve o maior aumento ano a ano do mundo em plantações biotecnológicas absolutas, somando 4 milhões de hectares em 2010, um aumento de 19 por cento, plantando, no total, 25,4 milhões de hectares. Apenas os EUA ultrapassam o Brasil no total de área de plantações dedicadas às plantações biotecnológicas. A Austrália, que se recuperou de vários anos de seca, viu o maior aumento proporcional ano a ano em plantações biotecnológicas em 184 por cento. Burkina Faso seguiu com um crescimento de 126 por cento com 80.000 agricultores plantando 260.000 hectares, uma taxa de adoção de 65 por cento.

O Brasil, depois de decretar aprovações de plantações biotecnológicas (um total de 27 e 8 apenas em 2010) e de garantir acordos de comércio de exportações planta, atualmente, 17 por cento das plantações biotecnológicas do mundo, segundo o Dr. Anderson Galvão Gomes, diretor da Celeres do Brasil e colaborador do relatório do ISAAA. Os aumentos de produtividade atribuídos às plantações biotecnológicas ajudaram a alimentar a capacidade de o Brasil dobrar a sua produção anual de grãos desde 1990, enquanto a área das plantações aumentou apenas 27 por cento. As vantagens das plantações biotecnológicas estimulam intensamente a disposição política e novos investimentos significativos em P&D de plantações biotecnológicas, com a velocidade e a eficácia aumentando o acesso à tecnologia, observou Gomes. Com a capacidade de levar à produção até 100 milhões de hectares de área plantada, com água, o Brasil continuará sendo a mola propulsora na adoção global de plantações biotecnológicas e está investindo em infraestrutura pa
ra apoiar esse crescimento.

“Os países em desenvolvimento cultivaram 48 por cento das plantações biotecnológicas globais em 2010 e ultrapassarão as nações industrializadas nos cultivos de plantações biotecnológicas até 2015”, afirmou James. “Claramente, os países da América Latina e Ásia conduzirão os aumentos mais importantes dos hectares globais cultivados com plantações biotecnológicas durante o restante da segunda década de comercialização da tecnologia.”

Os cinco principais países em desenvolvimento que cultivam plantações biotecnológicas – China, Índia, Brasil, Argentina e África do Sul – cultivaram 63 milhões de hectares de plantações biotecnológicas em 2010, o equivalente a 43 por cento do total global. No total, 19 dos 29 países que adotaram as plantações biotecnológicas são países em desenvolvimento, que apresentaram uma taxa de crescimento de 17 por cento ou 10,2 milhões de hectares em 2009, comparados aos meros 5 por cento de crescimento ou 3,8 milhões de hectares nos países industrializados.

Mais de 90 por cento dos cultivadores de plantações biotecnológicas são pequenos agricultores.

Dos 15,4 milhões de agricultores que usaram a tecnologia em 2010, 14,4 milhões eram pequenos agricultores de países em desenvolvimento com poucos recursos. Esses agricultores são algumas das pessoas mais pobres do mundo e as plantações biotecnológicas contribuem para amenizar a sua pobreza, segundo James. Hoje, na China e na Índia estão a maioria dos pequenos agricultores que usam plantações biotecnológicas; 6,5 milhões de agricultores chineses e 6,3 milhões de agricultores indianos cultivam sementes para plantações biotecnológicas. Notavelmente, nos últimos 15 anos, agricultores do mundo todo tomaram 100 milhões de decisões independentes de cultivar plantações biotecnológicas.

Mais de 1 bilhão de pessoas na Ásia, membros de 250 milhões de pequenas produções domésticas de arroz com plantações de aproximadamente meio hectare, são os possíveis beneficiários da aguardada comercialização do arroz Bt resistente a insetos, esperada para ser apresentada antes de 2015, observou James.

“É um importante progresso”, disse James. “Mais de 6.000 mortes por dia podem ser evitadas com o arroz dourado em populações com deficiência de vitamina A. Espera-se que o arroz esteja disponível para ser plantado nas Filipinas em 2013, depois em Bangladesh, Indonésia e Vietnã.” 

Novos países na produção de plantações biotecnológicas, mais plantações à vista

Em 2010, três países cultivaram comercialmente plantações biotecnológicas pela primeira vez e um país voltou a cultivar esse tipo de plantação. Aproximadamente 600.000 agricultores do Paquistão e 375.000 de Myanmar plantaram algodão Bt resistente a insetos, e a Suécia, o primeiro país escandinavo a comercializar colheitas biotecnológicas, plantou uma nova fécula de batata de biotecnologia de alta qualidade aprovada para alimentação e uso industrial. A Alemanha também plantou as mesmas batatas de biotecnologia em 2010, retomando seu lugar entre os oito países da UE que cultivam atualmente batatas ou milho de biotecnologia.

James disse que espera que mais 12 países adotem plantações biotecnológicas até 2015 para fazer a lista de países que optaram pela tecnologia chegar a 40 países (o número previsto pelo ISAAA em 2005), que o número de agricultores dobre para 20 milhões e que a área global em hectares dobre para 200 milhões. Espera-se que mais três ou quatro países cultivem plantações biotecnológicas em cada uma das três regiões da Ásia, Oeste da África, Leste/Sul da África e outros, menos na América Latina/Central e Europa Ocidental e Oriental. O México, centro de biodiversidade do milho, conduziu com sucesso suas primeiras experiências em campo do milho Bt e milho resistente a herbicidas em 2010. O México já cultiva com sucesso algodão e soja de biotecnologia há muitos anos.

James disse que há um considerável potencial de aumento da adoção da biotecnologia das quatro atuais grandes plantações biotecnológicas (milho, soja, algodão e canola), que representaram quase 150 milhões de hectares em 2010 de um potencial global de dobrar essa área em hectares para mais de 300 milhões. Nos próximos cinco anos, a escolha oportuna do momento do cultivo de arroz de biotecnologia comercializado e a tolerância à seca como uma característica do milho e de outras diversas culturas serão catalizadores seminais da futura adoção das plantações biotecnológicas globalmente. O milho tolerante à seca é esperado nos EUA no começo de 2012 e, de forma importante, na África até 2017.  A decisão, há quatro anos, de retardar o trigo de biotecnologia tolerante a herbicidas também está sendo revista e muitos países estão acelerados no desenvolvimento do trigo de biotecnologia com diversas características, entre elas: tolerância à seca, resistência a doenças e qualidade dos grãos. Os primeiros devem estar prontos para comercialização em 2017. James espera que diversas plantações médias em área em hectares sejam aprovadas para comercialização até 2015, entre elas: batatas de biotecnologia resistentes à doença de batatas mais importante no mundo, “requeima”, a causa da fome na Irlanda em 1845, cana-de-açúcar com melhores características de agronomia e de qualidade, bananas resistentes a doenças, beringela, tomate, brócolis e repolho Bt, além de plantações que beneficiam os pobres, como mandioca, batata doce, leguminosas e amendoim de biotecnologia. Os 29 países que cultivaram plantações de biotecnologia em 2010 já correspondem a 59 por cento da população mundial e James é cautelosamente otimista quanto à contribuição que a biotecnologia pode dar à meta de desenvolvimento do milênio de segurança de alimentos e atenuação de pobreza até 2015.   

“As plantações biotecnológicas tiveram um papel talvez subestimado no progresso para conquistar as metas de desenvolvimento do milênio de 2015”, disse James. “O seu impacto até 2015 será mais reconhecido universalmente.”

Além disso, as plantações biotecnológicas contribuíram para a sustentabilidade e estão ajudando a mitigar a alteração climática, afirmou James: “As plantações biotecnológicas ajudaram a reduzir as emissões de carbono e a poupar a terra e, ao mesmo tempo, auxiliaram a atenuar a pobreza de algumas das pessoas mais pobres do mundo.”

Para proporcionar a mais agricultores pequenos e de poucos recursos do mundo acesso a plantações biotecnológicas, James diz que há uma necessidade urgente de sistemas reguladores adequados que sejam responsáveis e rigorosos, mas não onerosos, para países de desenvolvimento insignificante e insatisfatório.

Para obter mais informações ou o resumo executivo, acesse www.isaaa.org.

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O relatório é inteiramente financiado por duas organizações filantrópicas europeias: a Fundação Bussolera-Branca, da Itália, que apoia o compartilhamento livre de conhecimento de plantações biotecnológicas para auxiliar a tomada de decisão por parte da sociedade global e uma unidade filantrópica dentro do Ibercaja, um dos maiores bancos espanhóis com sede na região de plantação de milho da Espanha.

O Serviço Internacional para a Aquisição de Aplicações Agro-Biotecnológicas (ISAAA) é uma organização sem fins lucrativos com uma rede internacional de centros voltada para contribuir para minimizar a fome e a pobreza, compartilhando conhecimento e aplicações de plantações biotecnológicas. Clive James, presidente e fundador do ISAAA, viveu e/ou trabalhou, nos últimos 30 anos, nos países em desenvolvimento da Ásia, América Latina e África, dedicando esforços para questões de pesquisa e desenvolvimento agrícola com foco na biotecnologia de plantações e na segurança global de alimentos.