Representantes indígenas reivindicaram nesta terça-feira maior presença nos debates internacionais sobre mudança climática e criticaram que as medidas estipuladas sobre este tema não atingem as florestas tropicais. “Agora estamos sendo levados em conta, mas na realidade não fazemos parte do processo”, lamentou Estebancio Castro, representante indígena panamenho, no 4º Diálogo sobre Florestas, Governança e Mudança Climática, realizado hoje em Londres e promovido pela ONG Right and Resources.
Segundo Castro, a forma de dar voz aos índios nas conferências sobre o clima frequentemente se reduz a videoconferências, o que “dificulta um diálogo real porque não estão ‘tête-à-tête’ com os políticos”. “Em muitas dessas comunidades nem sequer há acesso a internet”, acrescentou.
Castro reivindicou também maior transparência no momento de implementar a iniciativa REDD (Reduzir Emissões do Desmatamento e Degradação) para conseguir que as comunidades indígenas confiem nas medidas que estão sendo tomadas pelos governos. O plano REDD foi um dos poucos pontos de consenso que saíram da última cúpula da mudança climática, realizada em Copenhague (Dinamarca) em dezembro passado.
“É fundamental incorporar uma perspectiva humanitária ao problema da mudança climática porque estamos observando a violação contínua de nossos direitos humanos e somos deslocados de nossas terras”, assinalou Castro. O representante indígena também insistiu na necessidade de assistência financeira e vigilância anticorrupção para assegurar que os fundos chegam às comunidades locais.
A representante da sociedade civil na conferência, Rosalind Reeve, da ONG Global Witness, se queixou que nas reuniões sobre o clima a presença de ONGs é frequentemente limitada a que seus países de origem decidam incluir-lhes como parte das delegações nacionais. Reeve foi muito crítica com a decisão do Governo francês de não permitir a entrada dos representantes indígenas na conferência internacional sobre grandes áreas florestais realizada em Paris no mês passado.
O responsável de assuntos climáticos do Ministério de Ecologia, Energia e Desenvolvimento Sustentável da França, Paul Watkinson, se defendeu da acusação argumentando que a ideia da cúpula em Paris era dar “impulso político” ao plano REDD de Copenhague, “que tinha ficado estagnado”. Apesar da justificativa, Reeve se mostrou “pouco confiante” de que a segunda parte da conferência iniciada em Paris e que será concluída em Oslo em 27 de maio seja “realmente inclusiva” com relação à sociedade civil.
O responsável sobre assuntos climáticos do Governo norueguês no encontro de hoje em Londres, Hans Brattskar, garantiu que o evento em Oslo receberá o maior número possível de representantes indígenas.
BBC