No treino de segunda: véspera do adeus (Foto: Ricardo Saibun/Agif/Folhapress)

No treino de segunda: véspera do adeus (Foto: Ricardo Saibun/Agif/Folhapress)

No treino de segunda: véspera do adeus (Foto: Ricardo Saibun/Agif/Folhapress)

Para os jogadores, ele é o “Presidente”, apelido que até outros craques consagrados aceitam usar quando está por perto. Na história da seleção, no entanto, Ronaldo é rei. Desde que Pelé inaugurou a dinastia dos brasileiros campeões do mundo, nenhum outro monarca ocupou esse trono por tanto tempo. E na noite desta terça-feira, quando seu reinado acabar oficialmente, Ronaldo não deixará nenhum sucessor direto. Alguns já reivindicam a coroa – um deles, o jovem príncipe Neymar, estará em campo ao lado dele no amistoso contra a Romênia, às 21h50 (horário de Brasília), no Estádio do Pacaembu, em São Paulo. Mas ainda falta ao novo astro da seleção uma coisa que consagrou os outros craques que marcaram época com o manto amarelo: a capacidade ímpar de fazer gols de todas as formas possíveis e imagináveis. Nisso, Ronaldo só perde mesmo para Pelé – são 67 gols, contra os 95 do tricampeão mundial. Ronaldo, aliás, foi bi em Copas – e ainda marcou seu nome com maior artilheiro da história dos Mundiais (e três vezes melhor jogador do mundo eleito pela Fifa). Não tinha mais fôlego nem pernas para continuar, e por isso é forçado a se despedir da seleção deixando um enorme vazio no lugar que ocupou durante mais de uma década.

Pelo roteiro anunciado pela CBF na véspera da partida, Ronaldo entra em campo aos 30 minutos do primeiro tempo, saindo direto dos vestiários – não vai ficar no banco, por motivos evidentes -, e joga até o fim da etapa inicial (no intervalo, receberá sua derradeira homenagem com a camisa amarela). Um sinal muito claro de que não existe quem o substitua é a escolha do jogador que ocupará seu lugar no campo durante a primeira meia hora: Fred, que já viveu fases mais brilhantes e que pouca gente aponta como candidato forte a comandar o ataque do Brasil na Copa de 2014. Na volta do intervalo, são candidatos à vaga Nilmar e Leandro Damião, que também não despontam como possíveis herdeiros do Fenômeno. Desde Pelé, o Brasil teve raros períodos sem um grande goleador, mesmo que não ocupasse a posição de centroavante – nas últimas décadas, por exemplo, houve Zico, Careca, Romário e Ronaldo. Tamanha é a dúvida sobre quem vai assumir esse papel que o técnico Mano Menezes está esperando até o último momento para decidir sobre a convocação de Alexandre Pato para a Copa América, em julho, na Argentina. Machucado – como é quase rotina para o frágil atacante revelado pelo Internacional -, Pato pode ser chamado nesta terça, depois do jogo contra a Romênia, mesmo estando ainda em recuperação. Ele vinha sendo o favorito para vestir a camisa 9 no time de Mano.

Com Neymar: candidato a sucessor (Foto: Piervi Fonseca/Agif/Folhapress)

Com Neymar: candidato a sucessor (Foto: Piervi Fonseca/Agif/Folhapress)

Falta em Pato, porém, algo que Ronaldo sempre teve de sobra – e que continua evidente mesmo depois de sua aposentadoria, anunciada em fevereiro. Na tarde de segunda-feira, no treino de reconhecimento do gramado do Pacaembu – reconhecimento para os outros, claro, porque Ronaldo aprendeu cada atalho desse campo, seu último grande palco, atuando pelo Corinthians -, o magnetismo do craque era indiscutível. Até Neymar, que provocou histeria no amistoso do último fim de semana, em Goiânia, contra a Holanda, não chegou nem perto de ofuscar o carisma do dono da festa desta terça. Muito à vontade no grupo (são, afinal, 17 anos participando da seleção), Ronaldo parecia estar se divertindo no treino, em que mostrou pontaria ainda afiada numa sessão de finalizações e distribuiu belos passes no “rachão” que encerrou a atividade. Mas além do peso – em resposta à brincadeira feita na entrevista coletiva de algumas horas antes: não, Ronaldo, você não está mais magro -, as dores, inseparáveis do craque por anos a fio, atrapalharam. Tanto que ele confessou ter levado uma injeção de antiinflamatório depois do treinamento. De acordo com ele, foi para aliviar o incômodo e “não estragar a festa de terça”. Impossível: a festa da entrega da coroa está mais que garantida, com ou sem sucessor, com ou sem lances geniais, com ou sem mais um gol, o último, de Ronaldo.

(Giancarlo Lepiani)

Fonte: VEJA