Às vezes, é necessário se jogar de cabeça naquilo que julgamos ser essencial para o crescimento futuro

Frequentemente sou convidado para dar palestras sobre liderança e gestão. São dezenas delas por ano, onde normalmente sou questionado sobre minha trajetória profissional e sobre as mudanças de rumo às quais me propus ao longo do caminho. Não raro, aparecem perguntas também sobre a frieza necessária para abandonar uma carreira em ascensão e começar tudo do zero novamente.

Ontem mesmo estive na Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo para um encontro com universitários. Parte do tempo em que passei à frente da plateia -cerca de 500 espectadores, principalmente estudantes de graduação- dediquei a comentar sobre as mudanças necessárias no comportamento profissional para acompanhar a evolução tecnológica.

Vivemos no mundo do imediatismo, em que a tecnologia encurta distâncias, aumenta a produtividade e permite a conexão instantânea de pessoas, coisas, produtos e lugares. É a era dos computadores ultraportáteis, dos tablets e dos negócios bilionários que podem ser comandados a partir da palma da mão, por meio de um smartphone.

O que comentei com a plateia da FGV é que, apesar dessa rápida evolução tecnológica observada por toda parte, nem sempre as pessoas estão preparadas para aceitar mudanças igualmente necessárias em suas vidas e em suas carreiras. Ainda é característica da maior parte dos profissionais se manter arraigada a processos antigos que trazem segurança, como um cargo estável e/ou um salário razoável por mês.

Um dos exemplos vem de profissionais excelentes, mas inflexíveis, que ainda atribuem, por exemplo, valor excessivo à hierarquia empresarial e não compreendem que, na nova dinâmica dos negócios, o cargo dá lugar ao profissional multifunção. Ele pode até não ter um título grandioso no papel, mas é essencial para o crescimento da empresa.

No mundo das transformações velozes dos negócios, estar aberto aos riscos das mudanças de áreas, de empresas e até de profissão nunca foi tão necessário. Agora, mais do que nunca, é necessário que os jovens profissionais pensem em suas carreiras futuras como um plano de negócios: com estruturas de base, com as etapas necessárias para o crescimento -e seus desvios em caso de imprevisto- e o objetivo final.
No meu caso, liderar uma grande empresa era o plano desde muito jovem. E precisei correr os riscos das mudanças para conseguir chegar até o objetivo. São essas transformações que levam ao que considero saltos profissionais.

Comecei minha vida profissional há mais de 20 anos na área de comunicação corporativa, após cursar publicidade e jornalismo. Fiquei no ramo por quase sete anos, até ingressar em recursos humanos. Confesso que pouco conhecia da área, enfrentei obstáculos, mas considerava que entender as pessoas me ajudaria futuramente a compreender melhor os negócios. Foi o primeiro grande salto que dei em direção ao objetivo.

O segundo salto veio com a saída da área de RH para vendas, área crucial para o crescimento de negócios de qualquer empresa. Novamente, as resistências apareceram, mas foram essenciais para o crescimento profissional.

O terceiro e decisivo salto veio quando deixei as posições de vendas para assumir, pela primeira vez, a função de gerente-geral, à frente da HBO, quando precisei me aprofundar em gestão de crise, metas e prazos, elementos essenciais que me abriram o caminho para ocupar as posições no Google e agora no Facebook.

Pela própria experiência, costumo responder às perguntas sobre trajetória profissional dizendo que não existe fórmula pronta capaz de indicar que “chegou o momento da mudança”, mas que observar as demandas do mercado e construir uma carreira eclética costumam ajudar.

Se houver um planejamento antecipado, tudo fica mais fácil. Ainda assim, dá para dizer que, de tempos em tempos, é necessário desconstruir parte do que aprendemos, sair da área de conforto de uma posição já estabelecida e se jogar de cabeça naquilo que julgamos ser essencial para o crescimento futuro.

ALEXANDRE HOHAGEN, 44, jornalista e publicitário, é responsável pelas operações do Facebook na América Latina. Em 2005, fundou a operação do Google no Brasil e liderou a empresa por quase seis anos.


Fonte: Folha de S.Paulo


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