O mundo se interessa pela praticidade; não reconhece a eficácia da rainha como espinha dorsal da nação

ONTEM FUI jantar com meu afilhado de 18 anos, que mora em Chelsea e é a cara do príncipe Harry, só que mil vezes mais bonito, bem-nascido, educado e viajado.
Ele não acreditou que eu pudesse estar em Londres cobrindo o casamento real. “Qual a utilidade da família real mesmo?”, perguntou-me. “Não acredito que você tenha assunto para falar sobre esses inúteis durante a semana toda, Barbara.”
De fato, a rainha não serve para nada, não acontece, não presta serviço, não toma decisões nem tem poder algum. A coroa da coroa (argh!) só encontra função no simbolismo.
Até o lorde Nelson lá de cima da coluna de Trafalgar Square sabe que hoje o mundo só se interessa pela praticidade, só vê valor na razão instrumental, só enxerga o que dá resultado e não consegue reconhecer a eficácia simbólica da rainha como espinha dorsal da nação.
A geração do meu afilhado provavelmente torce para que Charles e sua Catifunda Camila sejam atropelados por todos os cavalos da estrebaria real e acabem no fundo do rio Tâmisa.
Para eles, a manutenção da realeza é um desperdício de dinheiro, e o casamento de William e Kate na abadia de Westminster é encarado como uma afronta em um momento em que o país está mergulhado numa grave crise econômica.
Tomei chá na tarde de quarta com um lorde inglês que trabalha com o príncipe Charles. Disse-lhe que morava na Inglaterra em 1977, ano do Jubileu da rainha Elizabeth, e que passei a data festiva no Hyde Park celebrando como se fosse Carnaval. Apesar de o país estar imerso em uma grave crise também naquela época, o clima era outro, acho que as pessoas eram mais ingênuas, mais condescendentes.
“O que aconteceu com vocês de lá para cá?”, perguntei ao lorde.
“Naquela época, vocês odiavam mostrar emoção em público, nunca se abraçavam, era impensável ver pai e filho se beijando. E agora choramingam feito napolitanos, só falta cantarem um fado ou introduzirem carpideiras nas tradições inglesas. O que houve com os ingleses?”
O lorde olhou-me cheio de melancolia. “A gente se esforçava muito para ser inglês, mas, com a globalização, nosso modo de vida se perdeu”. E, com ele, a caça à raposa, a Câmara dos Lordes e o respeito das coitadas Tonga, Milonga, Canadá, Austrália e outros Kabuletês que ainda compõem a Commonwealth britânica.
Dá para entender por que Kate Middleton e sua extração 100% classe trabalhadora são tão importantes para dar sangue novo a uma instituição que precisa urgentemente de renovação?

fonte: Foha de Sp