Numa reunião inédita, mas que acabou sem efeitos práticos, o presidente chinês, Hu Jintao, ofuscou a estrela do evento, o americano Barack Obama, ao anunciar quatro medidas que seu país tomará para combater o aquecimento global. Já o americano repetiu promessas de campanha, mas está amarrado pelo Congresso, que ainda debate sua proposta energética-ambiental.

Os dois líderes se reuniram na manhã de ontem com colegas de cerca de 100 países na ONU (Organização das Nações Unidas), numa cúpula organizada pelo secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon, como preparativo para a reunião de Copenhague, em dezembro. A ideia era ganhar impulso político para o novo acordo de proteção ao clima, a ser assinado lá.

Pouco foi alcançado, embora progressos tenham sido feitos. O premiê japonês, Yukio Hatoyama, reafirmou sua intenção de cortar 25% das emissões até 2020 em relação a 1990. O presidente francês, Nicolas Sarkozy, sugeriu uma nova cúpula do clima para novembro.

Líder do 5º maior emissor mundial, Luiz Inácio Lula da Silva não compareceu ao encontro. À noite, porém, no seu jantar de encerramento, prometeu que o Brasil apresentará um número de redução de emissões.

Hu e Obama se comprometeram com medidas antiaquecimento global, o que marca uma dupla ruptura: do primeiro com a recusa da China em discutir limites; do segundo com o governo do antecessor, George W. Bush, que nem sequer reconhecia o fenômeno climático. A China tomará quatro decisões, disse Hu: cortar a emissão de gases-estufa por uma “margem notável” até 2020, em relação aos níveis de 2005, embora ele tenha se recusado a dar números e tenha condicionado tal corte a um aumento do PIB; aumentar o uso de combustíveis “limpos” para 15% do total em 2020; aumentar o ritmo de reflorestamento de seu país; e desenvolver a “economia verde”.

Nada disso, avisou, será realizado se o custo for uma queda no desenvolvimento social: “Devido ao baixo nível de desenvolvimento e à escassez de capital e tecnologia, países em desenvolvimento têm capacidade e meios limitados para lidar com mudança climática”.

Já Obama disse que seu país fez mais nesse setor no seu governo do que “em qualquer outra época”. Citou como exemplo a primeira proposta nacional de um limite de consumo por litro da frota americana.

Mas admitiu que mais avanços dependem da agenda doméstica, e essa está encalacrada por conta da polêmica da reforma do sistema de saúde pública. Obama conseguiu aprovar na Câmara dos Representantes (deputados) um projeto de lei que limita as emissões, mas a discussão no Senado deve ficar para o ano que vem, ou mesmo nem ser aprovada nesta legislatura, que se encerra em 2010.

Ainda assim, o democrata prometeu trabalhar com seus colegas de G20, grupo das economias mais ricas do mundo, que se reúne no fim da semana, para diminuir os subsídios a combustíveis fósseis. E cutucou o colega chinês -China e EUA respondem por 40% do total mundial de emissão de gases-estufa. “Dificuldade não é desculpa para complacência.”

“Desconforto não é desculpa para inação e nós não podemos permitir que o perfeito seja inimigo do progresso”, continuou. “Cada um de nós tem de fazer o que puder para fazer crescer nossas economias sem colocar em risco nosso planeta, e devemos fazer isso tudo juntos.”

Sérgio Dávila
Folha de São Paulo