A concentração de gases de efeito estufa na atmosfera é preocupante. É um fenômeno global que requer ações de todos. As ações de mitigação de emissões terão repercussões decisivas sobre o nosso modelo industrial e potencial de crescimento. É isso que explica a mobilização empresarial em torno do tema.

As atenções estão concentradas, no curto prazo, na preparação das posições que o governo brasileiro deverá levar à 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, em Copenhague, marcada para dezembro, quando deverão ser definidos novos compromissos de redução de emissões e mecanismos de financiamento.

No médio prazo, temos que refletir sobre os impactos na nossa estratégia industrial.

Para debater as estratégias nacionais e formular as posições do setor empresarial nas negociações internacionais sobre o clima, a CNI criou um fórum de consulta e articulação com os vários setores e federações estaduais da indústria. No momento, o grupo está dedicado a elaborar um documento de posição da indústria para a conferência das partes.

A agenda da indústria sobre mudanças climáticas vai além de Copenhague e nos remete à necessidade de discutir novas políticas públicas domésticas e estratégias empresariais adequadas para lidar com os desafios da transição para uma economia de baixo carbono.

Entramos nesse processo com vantagens importantes. O Brasil se diferencia, dada sua matriz energética, dos demais que compõem os Brics. Só 8,8% das nossas emissões de gases de efeito estufa são provenientes das atividades industriais. A participação de energias renováveis na matriz energética brasileira é de 45%, enquanto a média mundial é de apenas 14%. A meta da União Europeia é atingir 20% de fontes renováveis em 2020.

O Brasil é uma potência energética e ambiental. Essas características fazem com que o país tenha condições de implementar iniciativas de redução de mitigação de baixo custo, particularmente em atividades de redução do desmatamento e de recuperação de áreas degradadas.

Por outro lado, mesmo quando comparado com outras economias emergentes, nosso país apresenta baixo consumo per capita de energia e de produtos industrializados. Assim, é importante evitar que as negociações em Copenhague resultem em compromissos de redução de emissões que limitem o acesso da população brasileira a bens e serviços.

Um dos requisitos necessários para evitar que o esforço de combate ao aquecimento global aprofunde as desigualdades econômicas e sociais é a criação de mecanismos de cooperação e transferência de tecnologias.

A ampliação dos atuais mecanismos de financiamento, públicos e privados, para ações de mitigação de emissões é prioridade para viabilizar compromissos voluntários por parte dos países em desenvolvimento.

Para vencer o desafio da mudança do clima, o Brasil precisa de sólida política de apoio à pesquisa e inovação em produção limpa. Isso passa por redução dos custos dos financiamentos, desoneração dos investimentos e estímulos à inovação. É preciso também contar com um ambiente regulatório e institucional previsível e estável e com o aumento da cooperação entre os setores público e privado.

A CNI, em parceria com a Eletrobrás e o Procel, desenvolve um amplo trabalho voltado para o aumento da eficiência energética de setores industriais brasileiros. Essa iniciativa envolve a formação de núcleos de eficiência energética em federações de indústria, benchmarking de processos e produtos e proposições de aperfeiçoamentos no marco legal.

Sem ações articuladas entre governos e setor produtivo, dificilmente conseguiremos mobilizar os recursos, o conhecimento e a criatividade necessários para quebrarmos paradigmas e fazermos a transição inadiável para a economia de baixo carbono.

Armando Monteiro Neto
Folha de Sâo Paulo