Uma mudança proposta no estatuto do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) vai permitir que seu presidente, Paulo Skaf, diretores e conselheiros da entidade possam se candidatar ou assumir cargos públicos sem se licenciarem de suas funções.

Essa é uma das nove alterações propostas no estatuto no Ciesp, que serão colocadas em votação na próxima terça-feira em assembleia geral extraordinária que ocorrerá na sede da entidade, em São Paulo, e simultaneamente nas 42 diretorias regionais, municipais e distritais do Ciesp. O edital de convocação da assembleia foi publicado na última sexta-feira.

Os defensores da mudança dizem que ela atende a pedidos de dirigentes do interior que são convidados para participar de administrações municipais e não tem relação com aspirações políticas de Skaf. Empresários ouvidos pela Folha contestam a mudança e estudam formas de impedir a assembleia. Segundo eles, não houve consulta às indústrias associadas ao Ciesp antes da votação das propostas nem ampla divulgação de que seriam alteradas. Também criticam o fato de não haver tempo para discussão entre a publicação do edital e a votação.

Parte dos empresários acredita que as mudanças no estatuto do Ciesp têm como objetivo favorecer uma possível candidatura política de Skaf, que já sinalizou que pretende se candidatar em 2010 ao governo paulista. Se o estatuto do Ciesp for alterado, ele pode ser candidato e continuar presidindo a entidade. No caso da Fiesp, teria de se licenciar.

Além de permitir que dirigentes empresariais participem de cargos públicos, será votada também no dia 25 a ampliação de três para quatro anos do mandato das diretorias e do conselho fiscal.

Também serão votadas alterações em relação à quantidade de membros necessários para aprovar deliberações da diretoria executiva. O atual artigo prevê que contem com presença da maioria de seus membros. Na nova proposta, qualquer deliberação é aprovada por maioria simples, com os presentes. Nesse caso, se 20 pessoas estiverem presentes, com 11 votos pode-se aprovar uma medida proposta pela diretoria executiva do Ciesp.
“Lamento que a proposta de modificação do estatuto do Ciesp, comunicada por meio de edital, não tenha sido precedida de uma ampla, transparente, democrática e irrestrita discussão entre os industriais pelo prazo mínimo necessário. Modificar o estatuto, buscando ampliar em um ano o atual mandato da diretoria eleita, é eticamente condenável”, disse José Henrique Barreto, empresário do setor de fumo.

Para Luiz Aubert, presidente do Sindimaq e da Abimaq (reúnem a indústria de maquinas), qualquer empresário pode se candidatar ou assumir cargo público desde que se afaste da entidade empresarial.
“O empresário tem que se licenciar. Abimaq e Sindimaq não permitem isso [que o empresário seja dirigente das entidades e ocupe ao mesmo tempo cargo público]”, diz.

Abdo Antonio Hadade, 1º diretor-secretário do Ciesp, diz que a proposta para mudar os nove artigos foi discutida em reunião realizada no dia 16 de julho com os diretores regionais e que foram enviadas cartas a 8.000 sócios do Ciesp informando sobre as mudanças e a publicação do edital.

“A proposta de acabar com o licenciamento atende pedidos de diretores regionais do Ciesp, que, geralmente, são convidados em suas cidades para ocuparem cargos em administrações municipais”, diz Hadade.
Essa mudança não tem intenção, segundo ele, de beneficiar Skaf. “Não pensamos nisso porque nem filiado a partido político ele [Skaf] é.” Em relação à ampliação do mandato, Hadade diz que a gestão passada já era de quatro anos e que alteração tem como objetivo coincidir os calendários eleitorais de Ciesp e Fiesp.

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI

Folha de São Paulo