Mais urgente reparar os danos ou preservar?
Vivemos a Revolução Industrial, o boom das fábricas, desenvolvimento da ciência e descoberta da energia atômica como arma na Segunda Guerra. Fomos ao auge do abuso das emissões de C02 (gás carbônico) nos anos 70, até a revolta ambientalista, que pegou carona e teve a fase, digamos, mais caricata na geração hippie (Paz, Amor e Natureza).

Viemos atravessando décadas, questionando o uso da Energia Nuclear e o desenvolvimento tecnológico a custo da degradação do meio ambiente. Estamos na era pós-moderna, colhendo frutos e sofrendo consequências graves do avanço da modernidade e produção de recursos básicos ao redor do Planeta.
(Foto: U.S.Navy)
Atol de Bikini – Ilhas Marshal, no Pacífico: segundo teste de bomba atômica da operação Crossroads, em 1946.

Até os anos 80, o Brasil almejava se colocar em posição econômica diante do mundo, ainda que isso custasse uma adequação à produção de Energia Nuclear. Vejamos os exemplos das usinas Angra I e Angra II. A desativação implicou em questões políticas, econômicas e de agronomia, mas falou-se pouco na questão ambiental e social, porque simplesmente o pior não aconteceu. No caso do Japão, reatores ocupam um espaço ínfimo, se comparado a uma usina hidroelétrica no Brasil. Antes da tragédia, a Energia Nuclear já dividia opiniões, visto que suas técnicas (baseadas na fissão atômica, a exemplo da reação em cadeia nos reatores) também são utilizadas para monitorar poluentes e identificar recursos aquíferos.

Porém a tragédia natural que resultou no acidente nuclear no Japão nas últimas semanas reacendeu este tema com força total, entre especialistas de diversas áreas de influência na sociedade – ambientalistas, físicos, governantes, empresários, bem como a opinião pública. A partir de 2011, os demais países estão revendo o conceito de energia e tecnologia em meio às consequências que agora fomos apresentados da forma mais dolorosa. Desde o ocorrido, o que mais se tem falado para contrapor a Energia Nuclear é o conceito de Energia Limpa. Mas o que seria energia “limpa”? É uma nova nomenclatura para o que chamávamos até os anos 90 de Energia Renovável.
A energia elétrica é basicamente gerada a partir de recursos naturais como petróleo, gás natural e carvão. Ela é considerada não renovável a partir do conceito de que a exploração desses recursos não oferece renovação em um prazo útil, sem falar que resulta nas grandes emissões de gás carbônico na atmosfera, o que gera a degradação ambiental e aquecimento global. Esse é o conceito de energia “suja”. A Energia Nuclear está, portanto nessa gama não renovável, também devido aos riscos da radiação, que resulta em grandes danos ao meio ambiente, contaminando gerações.

(Foto: Divulgação)
Usina nuclear emitindo vapor não-tóxico no Irã, o que não descarta o risco ao meio ambiente

Por outro lado, possuímos fontes de energia alternativas. Recursos como o biodiesel, cuja matéria-prima é uma ou mais plantas e não os fósseis. Energias geradas pelo sol, vento, água e calor, são os líderes do que consideramos recursos renováveis, ou seja, energia “limpa”. Porém o que mantém o uso da Energia Nuclear é o fato de que a Energia Limpa necessita de grandes territórios naturais e produz em menor escala, dentro da demanda mundial e dos grandes centros. Resumidamente e infelizmente, a Energia Nuclear ainda é um mal necessário. O Brasil tem um território extenso e recursos naturais quase infinitos, para gerar energia elétrica, sem o recurso nuclear. Prova disso é que pós 2000, somos o maior exemplo de uso do bicombustível, temos o maior índice de investimento no Terceiro Setor, estamos emergindo econômica e “ambientalmente”. Assim como países que vem se unindo a favor da energia “limpa”, como a comissão européia que defende o projeto “ENERGIA LIMPA, SEGURA E EFICIENTE PARA A EUROPA” e os holandeses que criaram conceito de torre que produz energia limpa e poderá ser adotado para construção civil. Ou o caso do fabricante chinês de automóveis BYD, que apresentou conceito de Energia Limpa nos Estados Unidos.

O problema que antigamente se valia de omissões e comissões por parte das autoridades, hoje se tornou de fato um problema mundial, atestado em tempo real, pela Internet e demais meios de comunicação de massa. Por mais que busquemos soluções e lamentações diante do ocorrido no Japão, a Energia Nuclear é algo que só despertaria interesse mundial diante de uma tragédia e ainda desperta sentimentos opostos, uma vez que não sabemos exatamente o que acontece e nem o que fazer diante das consequências ambientais e, mais ainda, da ameaça brutal à qualidade da vida humana na Terra.

A questão ambiental há muito não é mera utopia da geração Flower Power dos anos 70. Agora está nítido, amigos! Ou dá ou desce! Devemos dar um jeito. Devemos tomar uma posição, reivindicar e apoiar os governantes que lutarem por medidas mais seguras de geração de energia. O caso no Japão poderia ser prevenido? Vamos ser mais categóricos: NÃO À DEGRADAÇÃO. SIM À ENERGIA LIMPA. Ela é melhor, mesmo que em menor escala. Vamos nos ligar mais nas questões que geram benefícios ou danos para nós.

Vamos lamentar menos e nos equipar mais e melhor. Temos que retomar as rédeas da situação no mundo. A energia “limpa” pode não ser uma alternativa à altura da demanda mundial, mas é uma questão de viver com qualidade, e não apenas sobreviver à custa da irresponsabilidade dos poderosos. Precisamos gerar energia de maneira mais responsável, independente da especulação econômica que tivermos entre os países. Precisamos aprender com os erros de nossos antecessores. Temos que cuidar de nossos recursos naturais e principalmente, preservar para mudar e mudar para viver! E mais do que viver, deixar algo valioso para filhos e netos: um futuro!

fonte: Monique Barcellos é jornalista, poeta e blogueira.
Atua no jornal O SAQUÁ e no Voz das Águas, informativo do CBHLSJ – Comitê de Bacia Hidrográfica Lagos São João pela Tupy Comunicações.