O CIC (China Investment Corporation), o fundo soberano do governo chinês, realizou um investimento equivalente a US$ 498 milhões em papéis da brasileira Vale no ano passado, uma das maiores aplicações realizadas por Pequim em Bolsa de Valores nos EUA.

Segundo relatório que o fundo apresentou para a CVM americana, o investimento feito nos papéis da Vale só perde em valor para outros três, em um portfólio que, no fim de 2009, somava US$ 9,63 bilhões. Só o banco Morgan Stanley (US$ 1,8 bilhão), a gestora de recursos BlackRock (US$ 714 milhões) e a Teck Resources (US$ 3,5 bilhões), também do setor de mineração, receberam investimentos maiores.

Para o analista Marcos Assumpção, do Itaú, esse movimento do fundo chinês faz parte da política de Pequim de diversificar as suas reservas internacionais -as maiores do mundo, com mais de US$ 2 trilhões-, reduzindo a sua exposição aos títulos do governo americano e “migrando para investimentos reais”, como petróleo e minério de ferro.

Ele diz que é “natural” que Pequim invista em ADRs (recibos de ações de empresas estrangeiras negociados na Bolsa de Nova York) da Vale, que é a maior produtora mundial de minério de ferro, devido à necessidade que o país asiático tem da commodity para manter seu ritmo de crescimento. Lembra ainda a tentativa frustrada da China de adquirir participação na anglo-australiana Rio Tinto no ano passado.

De acordo com o analista, com o investimento na Vale, o governo chinês pode ganhar com a provável alta nas ações da empresa, caso ela consiga um aumento nas negociações de preço do minério com as siderúrgicas do país asiático.

Assumpção, porém, descarta que esse investimento chinês acabe exercendo alguma influência nas negociações do preço do minério. Pelo caminho segue Juliano Navarro, do BES Securities. “Eu não ficaria muito preocupado. É mais uma posição, sem nenhum viés de ter um pé na empresa”, disse o analista, lembrando que a aplicação do fundo soberano representa em torno de 0,5% do valor de mercado da Vale.

A Vale disse que a política da companhia é não comentar os movimentos realizados por seus acionistas.

Além da empresa brasileira, o fundo soberano, com capital de US$ 300 bilhões, fez uma série de investimentos em papéis de companhias ligadas à necessidade chinesa de garantir o fornecimento de matérias-primas, entre eles os de mineradoras como Anglogold Ashanti e Freeport-McMoran Copper, os da siderúrgica ArcelorMittal e os da trading de commodities Noble Group.

Folha de São Paulo