O Brasil, que tem pretensões de liderança regional e pregou um “plano Lula” para a reconstrução do Haiti, não enviará nem seu presidente nem seu chanceler para participar hoje de uma cúpula de chefes de Estado da Unasul (União de Nações Sul-Americanas) em Quito que tratará justamente de planos de auxílio da região ao país caribenho, devastado por um terremoto no último dia 12.

No encontro convocado pelo presidente equatoriano, Rafael Correa, que tem a chefia rotativa do órgão multilateral, a Unasul deve insistir num ponto: as ações de ajuda não podem solapar a soberania haitiana.

A defesa da soberania e a necessidade de reforçar instituições do governo do Haiti têm sido a tônica do discurso dos países da região, em especial do Brasil, desde a tragédia.

A mensagem costuma ser acompanhada de críticas, veladas ou não, à presença de 20 mil militares americanos envolvidos em ações humanitárias no Haiti, sem integração total à missão de paz da ONU no país.

O Brasil tem o comando militar da Minustah -com total soldados e policiais que não alcança a metade do contingente dos EUA- e defende a participação ativa dos países da região na reconstrução. O chanceler Celso Amorim sugeriu que os esforços de ajuda sejam batizados de Plano Lula.

O Palácio do Planalto diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não irá ao Equador por motivos de agenda. O presidente, que deve visitar o Haiti no dia 25, passará o dia em Minas Gerais, onde inaugurará obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e terá encontros com políticos locais. Já o Itamaraty diz que compromissos em Brasília impediram a participação de Amorim.

O Brasil será representado pelo assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e por uma comitiva do Itamaraty chefiada pelo embaixador Antonio Simões, subsecretário para a América do Sul.

O presidente Correa afirma que o encontro de hoje irá além da questão humanitária. “Sem governo e sem instituições, o país não poderá seguir adiante, a não ser como colônia, e isso nós não vamos permitir”, disse.

O ministro equatoriano da Segurança, Miguel Carvajal, disse à Folha que a intenção é delinear uma linha de ação complementar à da Minustah, que tem foco principal na segurança. “Quando pregamos a cooperação Sul-Sul também falamos da cooperação com os demais países da região”, diz.

O presidente do Haiti, René Préval, abrirá a reunião de hoje, expondo “as necessidades e prioridades” de seu país agora.

Entre os participantes da cúpula estará o presidente venezuelano, Hugo Chávez, que tem atacado duramente a presença americana no Haiti. Chávez tampouco endossou o envio da Minustah após a derrubada do presidente Jean-Bertrand Aristide, em 2004.

Na crítica à missão, porém, Caracas está isolada. Metade do contingente da Minustah é de latino-americanos. Até a aliada irrestrita Bolívia, de Evo Morales, contribui com soldados e policiais.

Folha de São Paulo