Nos arredores da elegante avenida Unter den Linden, o bulevar que termina no portão de Brandemburgo -o icônico portal de Berlim construído em 1719-, não há mais sinal da arquitetura que deveria ter marcado o poderio nazista.

Os prédios mais significativos do período foram devastados ou pelas bombas que desabaram sobre Berlim nos estertores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) ou pelos aliados nos anos do pós-guerra.

Hoje, a 70 anos do início da guerra que mudou a história do mundo -e 20 anos após a queda do Muro de Berlim, marco da Guerra Fria-, a paisagem local exibe um impactante Memorial para os Judeus Assassinados na Europa.

Projetado pelo arquiteto Peter Eisenman, ocupa 19 mil m2 na rua rebatizada de “Hannah Arendt”, a intelectual que, radicada nos EUA, analisou as origens do totalitarismo nazista.

O memorial é formado por 2.711 monolitos de diferentes tamanhos. No subsolo, há um museu com uma exposição permanente sobre o massacre dos judeus na Europa durante a Segunda Guerra. Numa das salas, o sistema de voz divulga todos os nomes conhecidos dos judeus que pereceram.

Devastado no conflito, o prédio da “nova chancelaria”, sede do governo alemão construída em 1939 a mando de Adolf Hitler na esquina das ruas Voss e Wilhelm, deu lugar a um prédio de apartamentos. Hitler passou ali seus últimos dias, reconstituídos na obra do escritor Joachim Fest, “A Queda”, que deu origem ao filme homônimo.

Em mais um sinal de como a Alemanha quer sepultar seu passado tortuoso, a parte externa do bunker sumiu com a construção do prédio. Se algo foi mantido embaixo da terra, não é aberto aos turistas -o bunker tinha centenas de metros de túneis e alojamentos.
O local é identificado discretamente, por meio de uma placa afixada nos fundos do prédio. Nas lixeiras da região, adesivos colocados em latas de lixo condenam o neonazismo.

Gestapo
A algumas quadras do antigo prédio da chancelaria que serviu como bunker de Hitler, na rua Prinz-Albrecht, também desapareceu outro prédio que marcou o nazismo, a antiga sede da Gestapo, polícia política do regime nazista.

Nos restos da construção da sede foi montada uma simples, mas muito abrangente exposição de documentos e fotografias. A mostra ganhou o nome de “Topografia do Terror”.

Os itens da coleção ficam em exibição na parte das ruínas que coincide com pedaços remanescentes do Muro de Berlim, derrubado em novembro de 1989, há 20 anos -a data é motivo de diversos eventos na Alemanha durante este ano (veja em www.visitealemanha.com).

O Muro de Berlim, erguido em 1961, foi um símbolo da divisão do país em República Federal da Alemanha, alinhada com as potências capitalistas, e República Democrática Alemã, soviética. Também foi ícone de outro tipo de terror -este experimentado pelos próprios alemães após o final da guerra.

Rubens Valente
da Folha de S.Paulo, em Berlim