A utilização de etanol por veículos faz com que o Brasil emita quantidade significativamente menor de CO2, gás causador do efeito estufa, do que se usasse apenas gasolina. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em 2008 foram consumidos, no País, 19,6 bilhões de litros do combustível de cana-de-açúcar (somados o anidro, adicionado à gasolina, e o hidratado). Isso gerou emissão de 6 milhões de toneladas de CO2. A mesma quantidade de gasolina teria lançado na atmosfera 43,6 milhões de toneladas do gás.

A própria cana absorve o gás durante a fotossíntese. Daí a compensação do CO2 gerada pelo etanol. No ciclo completo, as emissões são 89% menores do que com gasolina. Para cada mil litros do combustível vegetal são emitidos 309 kg de CO2. Para a mesma quantidade de gasolina, o número chega a 3.368 kg.

Os dados estão no livro Bioetanol de Cana-de-Açúcar, editado no final do ano passado pelo BNDES, e foram elaborados pelo professor titular do Instituto de Recursos Naturais da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) Luiz Augusto Horta Nogueira.

Impacto

Apesar dos benefícios do etanol, ao qual mais fábricas têm aderido (leia mais na página 4), há críticas sobre possível desmatamento da região amazônica e da migração de culturas para ceder lugar ao cultivo de cana.

“Isso não é possível por duas razões: os novos cultivos ocorrem principalmente em áreas de pastagens e o clima da Amazônia não é adequado para a cana-de-açúcar”, afirma Nogueira.

“Cerca de 70% do desmatamento ocorre devido à pecuária”, enfatiza o professor Ph.D. do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da UFRJ, Roberto Schaeffer. “O resto (expansão da soja, por exemplo) responde pelos 30% restantes. Os maiores problemas da cana são as queimadas, onde isso ainda é praticado, e exaustão de solo e de biodiversidade, típica de monoculturas”, diz Schaeffer.

Relatório da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) com base em dados do IBGE mostra que o cultivo de cana para etanol ocupa 1% do total de terras aráveis no País. A soja utiliza 5,8% e milho, 3,9%. Pastagens ficam com 48,6% do total.

Segundo o professor-doutor do departamento de Biotecnologia da Escola de Engenharia de Lorena, da USP, Marco Aurélio Kondracki de Alcântara, o cultivo na Amazônia é inviável por causa do bioma (tipo de ecossistema) da região. “A camada fértil do solo é rasa e há chuva intensa, ruim para a planta”, afirma.

O consultor de Emissões e Tecnologia da Unica, Alfred Szwarc, explica que na Amazônia há atualmente três usinas produzindo açúcar. “Todas antigas e com baixa produtividade.”

Luís Felipe Figueiredo, Estadão