Novo articulador político do governo Lula, o ministro Alexandre Padilha disse à Folha que a eleição presidencial caminha para “termos uma candidatura única” da base governista e que a prioridade do PT em 2010 será tentar eleger a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e construir bancadas fortes no Senado e na Câmara. Petista, Padilha deixou claro que isso significa o PT abrir mão de candidaturas em alguns Estados em favor dos aliados, sugerindo que pode haver uma determinação nesse sentido em caso de resistências. Sexto ministro de Relações Institucionais do período Lula, ele afirmou também que o governo não tomará nenhuma iniciativa para apoiar a volta de uma nova versão da CPMF e indicou que a taxação de Imposto de Renda sobre a poupança foi engavetada -temas impopulares e que podem ser usados pela oposição em 2010.

FOLHA – Havia a expectativa de que o governo Lula quebraria a tradição de utilizar a negociação de cargos e emendas para ter uma base aliada forte no Congresso. É possível quebrar esta corrente?
ALEXANDRE PADILHA – Tanto acho possível que estamos quebrando esta engrenagem.

FOLHA – Lula foi muito criticado pelo apoio a José Sarney, Renan Calheiros, Fernando Collor. Para governar é preciso ser assim tão tolerante?
PADILHA – Primeiro, nós governamos com as características do sistema político brasileiro e estamos promovendo mudanças. A ideia de um governo de coalizão é um avanço nisso.

FOLHA – O sr. acha possível aprovar uma nova versão da CPMF, a Contribuição Social, voltada para a saúde?
PADILHA – Isso não é um tema nem uma iniciativa do governo. Acho que só é possível se existisse um processo de mobilização de governadores, prefeitos, da sociedade. Isso não se demonstrou até o momento.

FOLHA – O governo lutou para prorrogar a CPMF, agora o sr. diz que este não é um tema de governo. Houve também um recuo na tributação da poupança. O governo está refém da eleição?
PADILHA – Não. O único cálculo que o governo faz é da importância das medidas para o momento que o Brasil vive, para a superação da crise. O que avaliamos como importante encaminhamos para o Congresso, enfrentando inclusive o debate que é promovido por ele.

FOLHA – Será enviado o projeto de taxação da poupança de IR?
PADILHA – Teve um debate no fim do primeiro semestre no âmbito do conselho político, a Fazenda apresentou uma proposta. Depois, o próprio ministério não deu continuidade à apresentação do projeto.

FOLHA – Qual deve ser o lema do candidato do PT em 2010?
PADILHA – A única coisa que acho sobre a eleição de 2010 é que vai ser polarizada, que confronta dois projetos para o país.

FOLHA – Mas o sr. não acha que o eleitor estará mais preocupado com o futuro do que com o passado?
PADILHA – O eleitor vai decidir sobre o futuro a partir dos ganhos que ele teve no presente.

FOLHA – Na sua avaliação, como será a escolha do eleitor em 2010?
PADILHA – Confio plenamente que o governo do presidente Lula terá todas as condições de fazer a sua sucessora.

FOLHA – A ministra Dilma?
PADILHA – A ministra Dilma, não tenho dúvida, é a pessoa que expressa isso dentro do governo, quem mais acumulou os conhecimentos sobre aquilo que o governo Lula mudou na vida da população.

FOLHA – A ministra, que até então era vista como a mais técnica, tem agora dividido sua agenda de trabalho com ações políticas. Não temem ser acusados de abuso da máquina?
PADILHA – Não, não tem nenhum procedimento feito pelo governo que caracterize isso.

FOLHA – O sr. acha que o vice dela deve ser do PMDB?
PADILHA – Vejo com muita simpatia o desejo do PMDB de compor e de apoiar Dilma e acho que ele tem quadros políticos que podem contribuir.

FOLHA – Como avalia as candidaturas da ex-ministra Marina Silva (PV) e do ex-ministro Ciro Gomes (PSB)?
PADILHA – São dois quadros extremamente valiosos. O ministro Ciro teve um papel fundamental de contribuição ao governo no primeiro mandato. Sem dúvida alguma pode contribuir muito para o embate eleitoral que vamos ter em 2010, numa eleição que vai ser polarizada. Ela caminha para termos uma candidatura única.

FOLHA – Só uma?
PADILHA – Caminha para isso. Por ser uma eleição polarizada, caminha para ter uma candidatura por parte do governo.

FOLHA – A tendência então é o Ciro ser candidato em SP?
PADILHA – Você tem de perguntar para ele.

FOLHA – Ele pode ser vice da ministra Dilma?
PADILHA – Acho que não existe nenhuma tendência para se fechar essas situações hoje.

FOLHA – Muitos defendem que o PT ceda nos Estados pela aliança nacional. Isso pode acontecer?
PADILHA – O PT está bastante comprometido com o projeto nacional, bastante convencido de que a prioridade para o PT é a eleição da ministra Dilma como sucessora do presidente Lula. A outra prioridade é constituir uma forte bancada no Senado e na Câmara.

FOLHA – Mas até agora nenhum pré-candidato do PT abriu mão.
PADILHA – O fato de a gente já ter, em vários Estados, um conjunto de forças políticas em torno de outros candidatos é uma demonstração de que o PT prioriza o projeto nacional.

FOLHA – Cite um exemplo?
PADILHA – Tem vários Estados em que o PT não lançou pré-candidato. É uma situação única no PT essa não sinalização de candidatos, apoiando desde o início outros partidos.

FOLHA – Quando tiver dois candidatos da base aliada, como na Bahia, significa que Lula vai subir no palanque dos dois?
PADILHA – Faço minhas as palavras do governador Jaques Wagner, que disse que a prioridade dele é o projeto nacional. Aquilo que puder contribuir e ajudar para a candidatura de Dilma ele vai fazer. Se for a existência de dois palanques, ele vai conviver com isso.

Valdo Cruz e Letícia Sander
Folha de São Paulo