A crise interrompeu, no primeiro semestre, o aumento do salário inicial médio dos trabalhadores nas três unidades da federação que pagam os maiores rendimentos no país: São Paulo, Rio e Distrito Federal. No total, o salário médio dos contratados, descontada a inflação, caiu em 6 das 27 unidades federativas. Nos outros 21 Estados, o rendimento subiu.

Os dados são do Ministério do Trabalho, que contabiliza os salários pagos a todos os trabalhadores contratados com carteira assinada no país.

Desde que o país retomou a trajetória de crescimento, em 2004, no governo Lula, não houve queda em igual número de Estados. De janeiro a junho deste ano, o salário médio avançou 0,57%. Nos primeiros seis meses de 2008, o avanço havia sido de 3,92% ante o ano anterior e, no mesmo período de 2007, houve alta de 4,62%.

A maior queda no primeiro semestre foi registrada no Maranhão, com retração de 2,49%. O maior incremento foi verificado em Rondônia (24,68%).

Amazonas e Espírito Santo também tiveram queda no valor médio do salário inicial.

Apesar da queda nas seis unidades federativas, especialistas em mercado de trabalho afirmam que o recuo dos salários no primeiro semestre foi ameno e que não indica deterioração dos rendimentos no país.

“Com o desempenho ruim da indústria e essa crise brutal, o normal era que o salário caísse. A surpresa é que caiu pouco”, afirma Claudio Leopoldo Salm, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Salm diz que, se as empresas demorarem a reagir mais acentuadamente à crise e não retomarem os investimentos e o nível de atividade, é possível que os aumentos dos salários demorem a se acelerar de novo. De 2003 a 2009, a variação do salário médio real dos admitidos foi superior a 30% em 15 Estados. No Acre, o rendimento avançou 64% nesse período.

A economista da Universidade de São Paulo Maria Cristina Cacciamali destaca que a tendência de crescimento do salário inicial dos trabalhadores diminuiu mesmo onde o salário médio continuou subindo. “A queda ainda não é significativa, mas indica que a evolução positiva estancou”, afirma.

José Dari Krein, presidente da Associação de Estudos do Trabalho, acrescenta que, com a alta rotatividade de mão de obra no país, a tendência durante a crise é que as empresas substituam trabalhadores por outros com salários menores nos cargos em que o custo de substituição é baixo. Ele ressalta, porém, que, comparada à queda do PIB, a desaceleração dos salários foi pequena.

Recuperação

Rodolfo Torelly, diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério do Trabalho, discorda das previsões negativas e diz que a tendência é que o mercado de trabalho se recupere no segundo semestre.

Ele avalia que, embora os aumentos dos salários não sejam tão positivos quanto nos anos anteriores, a situação do Brasil é “muito boa” se comparada à de outros países, onde o mercado de trabalhou sofreu mais.

Torelly afirma que a política de valorização do salário mínimo protegeu os rendimentos. “O salário médio dos admitidos leva em conta os maiores e os menores salários iniciais. Se você sobe o piso, sobe a média também”, destaca o diretor.

De abril de 2003 a fevereiro de 2009, o salário mínimo teve aumento real de 45%.
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA